sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

ITERMITÊNCIAS

Todas as ideias
são ideias nenhumas
Quando a prática não experiência a rigor

Todos os momentos
são momentos alguns
Quando tu não abundas na minha atenção

Toda a satisfação
é satisfação nenhuma
Quando por migalhas me sacio
na loucura do apetecido

E toda a fartura é desprovida de regozijo
Pois bem sei que o prazer
é tão instável na sua satisfação

LUXÚRIA




A noite é o covil das sombras que se querem gente

(...)

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

BOAS FESTAS





A todos os anónimos

Marias e Antónios

que por aqui passam

e se banham no meu divagar

Os votos de uma óptima quadra Natalícia

sábado, 21 de dezembro de 2013

INCONGRUÊNCIA

Olhou-se ao espelho e não se contentou com a imagem
em que se reflectia
Sintonizou com minúcia o pormenor
e voltou a não gostar de se ver
Ao longe o reflexo depreciava a sua cotação
Havia qualquer coisa naquele dia por preencher
Uma carência com o estômago...
Dilatado pela fome
Uma ausência em si mesma
com falta de cor
Um gosto a cuspo engolido
num despertar de uma manhã qualquer
Ou seria a falta de um apetrecho da moda ?
Pois sabia que toda a justificação
é uma descarga da culpa
Rápida e simplista
Evoluindo em modos materialistas
Tentando justificar factos e ideias
da forma mais fácil e eficaz
Seria a falta sexo ?
Um desejo que saciado nos corpos
infecta os olhares sorridentes
e os deixa com a cara de bacalhau mal cozido
Ou seria uma noite mal dormida ?
Teria definhado na curva de um instante ?
Padecia de alguma agrura
que lhe traduzi-se a aspereza dos dióspiros no olhar ?

De fora para dentro
um dedo inquisidor
repreendia um corpo conectado à imagem do espelho
E eu ali á espera
Prostrado...
Sem saber bem onde me desligar da ficha

Um reflexo só é imagem
se nos permitirmos aceitar nas suas formas
Acatar o que vem de fora é como uma Aurora
Que pode muito bem ser dia
ou então mulher
Dependendo apenas da forma e da hora
em que acionamos o nexo
a dar lógica à sua passagem

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

GENUINIDADE

A paixão é uma obrigação
que a carne tem para com a alma
De a alimentar com vagar
e com calma
Toda a volúpia que um corpo carece
e padece
dentro de si

Beija-me molhado
e alimenta-me os olhos ao escuro
Para que um passado
nunca impere sobre o futuro
Nem a alma se esconda...
Na claridade redonda
Do remoinho afunilado
onde se apertam as estações

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

AO SABOR DA MARÉ

Com o dedo indicador
apontou a direcção
e começou a desenhar um coração
na areia molhada da praia
Desenhou
desenhou
desenhou...
Mas o mar porém vinha e apagava

Incansável
rubricou o traço vezes sem conta
E quanto mais desenhava
mais afundava o seu dedo
Na ânsia de mostrar ao mundo
todo o seu apego
O que no fundo o flamejava
Mas contudo o mar sempre vinha, varria e apagava

Cansado do esforço inglório
resolveu fazer uso dos frutos do mar
que a praia o presenteava
E muniu-se das conchas e dos búzios
para assinalar o seu gostar
àquela paisagem...
Todavia o mar embrutecia
e de novo abalroava

Sentou-se a olhar o mar
e começou a meditar
Tentando entender o não acontecer
de um desejo que por dentro brotava
Então o vento soprou
As ondas da praia enfureceram
O céu fechou-se de nuvens
e escureceu
E foi aí que o rapaz entendeu
Que ninguém é mais alguém
só por se deixar ver mais além
Se sustento por fora
um corpo de estrutura não tem




segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

VIVA O FRIO

Viva o frio...os cachecóis
O chá
As castanhas
E as rabanadas

Viva o frio...as emoções
Os abraços
As conchinhas
E as traquinadas

Viva o frio...os edredons
O vinho tinto
O peru assado
Os pinhões e as passas

Viva o frio...as paixões
O chocolate
O desejo
E as alvoradas

Viva intensamente o frio
Para que em cada arrepio
Hajam emoções
E prazeres que piquem a carne

domingo, 8 de dezembro de 2013

ILUMINADOS






Toda a religião 

tem a sua água benta

Toda a fé

os seus cacos de demência

Toda a oração

um seu quê de carência

E todas as profecias

Uma história que ninguém viu a passar

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

CONCRETO IMAGINÁRIO

De contrariedade em contrariedade
o homem cria automatismos para se justificar
do insucesso daquilo que não foi

Eu...
Sou o resultado deliberado
dos dias em que me automatizo
em soluções
Para justificar o insucesso
daquilo que me escapa

Sou assim o resultado
de automatismos que criei
para justificar o insucesso
daquilo que não fui
Daquilo que não alcancei

Posso então admitir
que sou mais resultado do erro
do que a excelência do êxito
É que o cumprimento de um objectivo
deixa a pessoa relaxada
Ao invés a falha ou um mau momento
põe alerta o atento
no achar e solucionar
Uma eventual saída

Serei eu um concreto imaginário de momentâneas contrariedades ?

FADO

Ó musica leva-me para longe
Tão longe de um fado que é meu
Dá-me o poder de existir
longe deste meu pranto

Faz-me julgar que existe um lugar
Um lugar que não é o teu
Faz-me viajar e imaginar...
Para fluir

Ó musica leva-me para longe
Tão longe de um passado que ardeu
Leva-me a voar no alado enfeitado
desse teu cavalo branco

Faz-me julgar que existe um lugar
Um lugar que não é só teu
Faz-me viajar e imaginar
Para fluir

Ó musica leva-me para longe
Tão longe do amanhã que eu não sei
Dá-me a beber do saber
daquilo que eu nunca vivi

Faz-me julgar que existe um lugar
Um lugar que não é só o teu
Faz-me viajar e imaginar
Para fluir

Ó musica leva-me para longe
Tão longe para onde eu seja alguém
Devolve-me às ruas e às estradas
dos caminhos que eu não percorri

 Faz-me julgar que existe um lugar
Um outro lugar que não o meu
Faz-me viajar e imaginar
Para sentir

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

O GRÃO DA SOMBRA

A alma é como a pele de um coelho
Uma vez escalpe
nunca mais em tempo algum
atingirá a forma
que na carne a vida sustenta

Um corpo também é assim
Quando desintegrado pela terra
já mais será razão
para que uma ilusão
faça parte de um sonho

A vida dá-nos vida
não é a forma que nos dá vida
Da mesma maneira que um grão é sempre grão
Só adquirindo a sua sombra um dia
quando o sol o achar...
Integrado no volume dos corpos

terça-feira, 26 de novembro de 2013

NO QUADRADO DO QUILÓMETRO

No metro ou no quadrado do quilómetro
Nada de novo
Nada se aglutina
Se não os números...
A cocaína
de um vazio aritmético

A proximidade dos corpos
também não é seguramente a via mais presente
de nos darmos
Mas sim
a forma conseguida para nos medirmos
E num placebo nos medicarmos

A verdade essa
é na distância que se alcança
Que abraça e nos balança
Ao contrário do que se possa pensar

Sem inventar palavras
Reinvento-me todos os dias
Construindo caminhos e formas independentes
de me conectar com verticalidade
Atingindo a distância onde jazem os amores
e os sonhos das noites que me sonhei

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

LIVRE ARBÍTRIO



Um abraço está para o gesto

como os investimentos estão para o prazo

Rendem sempre muito mais

quando somos nós a ter as rédeas do tempo

DECOMPOSIÇÃO

Acordas todos os dias a ousar
mais do que aquilo que és
E adormeces sempre a julgar
a errância dos nadas que foste

As horas também são assim
passam sem passar
Até que lhe apertes o pulso...
E olhes para o relógio te dizer
O correr que não te passou

Cronometramos o pulsar
tão poucas vezes
Escassas são as vezes
que inspiramos fundo
Demasiadas são poucas as vezes
que bafejamos a felicidade
E ainda assim
Ousamos por um fim tão perfeito

Sou muito mais atento
Quando no mundo das palavras me componho
Esta minha decomposição já gasta
De uma carne desatenta
Que se arrasta
Sonolenta e errante 

Mesmo que daqui pouco
eu já não saiba de mim
e esteja distante
Sei que no aqui e agora eu pouco fui
daquilo que me sonhei
E pergunto-me...
Será bom sonhar ou até questionar à pergunta por nós
quando no concreto da voz
se esconde uma imensidão no pranto ?

A dúvida é a nossa essência
A resposta é o que nos distingue
E a simplicidade é o nosso encanto
neste binómio entre o pensar e o agir

terça-feira, 19 de novembro de 2013

INOCÊNCIA



Um corpo nu

nunca é o nu de um corpo despido

O nu mesmo que vestido

será sempre um corpo rendido...

Apaixonado

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

CASUALIDADES

O homem só precisa da duvida

para se reinventar

De disciplinas

para se esquecer

E de uma boa dose de afecto

para se deixar levar

e envolver...

No mais amargo dos dias

domingo, 17 de novembro de 2013

SULILÓQUIO




Vamos fazer já
Sem nos chantagearmos com o tempo ?
Vamos assumir nos corpos
o toque na alma ?
Ou vamos depositar a prazo o prazer
mesmo sem ter
o juro devido ?

Se tiver que acontecer
Assim será
Que seja intenso...
Se a intensidade desde logo se manifestar
Que tenhamos bom gosto
No chão ou na cama?
Tanto faz
Já pouco importa
Pois bem sei que
o que prevalece em nós
são apenas resquícios de recordações

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

MORIBUNDOS

Há uma geração que está a crescer
Há uma crise que não para de se alastrar
Há um cem numero de sem abrigos que todos os dias conhecem...
As pedras da calçada

Há uma solução que não se chega a por em prática
Há uma verdade cobarde que não chega a cortar a meta
Há uma evolução na comunicação que nos distancia tanto

Há um doente em cada canto de um quarto a chorar atenção
Há um hospital sem o fundamental da cura
Há uma canção que perdura trauteada na memória
Há um alguém que sem saber será história
Há uma cidade disposta a te acolher

Há uma motivação que se ergue precisa
Há um destino que se perde do rumo
Há um futuro despido de esperança
Há uma paz podre e um povo moribundo

Há uma verdade que se revela numa lágrima corrida
Há uma fome continua que não se encontra no alimento
Há uma noite que é comida ao relento
Há um sustento
Há uma vida 
E há sempre um fim

Após ou no termino de cada começo

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

FAZ DE CONTA

Existem sonhos que são para serem iludidos
Apenas sonhados
Vividos
Desejados na história de uma fábula


Trago algumas dessas histórias
bem dentro dos meus bolsos
E procuro com a sensibilidade dos dedos
não as amachucar
Tentando vasculhar e trazer à tona
apenas e só os sonhos
Aqueles que não interferem
num faz de conta
Desses meus contos de fábulas

domingo, 10 de novembro de 2013

A ORDEM DAS COISAS

Se o sexo é anarquia
sem ordem nem protocolo
O amor também não pode ser só poesia
com um rigor tão melódico
Pois ambos se conjugam de frente
em harmonia
Quando o ser selvagem é animal
e o doce do afago
Um suspiro que rima

Que não busca o ar para se alimentar
se não um caminho para se suster

A ordem das coisas é desorganizada
Mas cúmplice...
Por haver em toda a perspectiva
ângulos capazes de se fortalecerem

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

O PESO DA ALMA





Se fosses a metade daquilo que dizes
não serias tu
um quarto daquilo que calas

...sim
pois também é num quarto que adormeces os sonhos


quinta-feira, 31 de outubro de 2013

A FORMULA IDÍLICA

Atravessámos com um olhar
dialectos de ternura
Tão frágeis de se sintetizar
E sorrimos

Representámos movimentos
nas formas sinceras de encenar
um mesmo pensamento
E achámos

Numa linguagem imprópria
de verbalidades
Numa lógica distante
da história
E fomos ao fundo

Com a coragem de provar
a liberdade...
Na comunhão solene da nossa carne
E chorámos
O que o pensamento diluiu

A formula idílica de ser

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

INDIVISÍVEL

Entre a vida e a morte
Há o céu e a terra
Há a sorte de haver um lugar

Entre tu e eu
Há uma distancia a se perder
Há um caminho por encontrar

Entre o pensamento e a saudade
Há um passado
Há uma rima

Entre a dor e o afecto
Há uma vontade
Há uma sina

Entre a paixão e o amor
Há um sabor
Há o desejo

Entre a surpresa de um beijo
Há sempre um frio
E um arrepio...
Que encrespa por dentro

Nada é um concreto no abstracto do gesto
E todas as perspectivas são validas e capazes
para se concretizarem momentos unos

DESPROGRAMADOS

No monte das vulgaridades
eu me carrego ao colo
Não vá o verniz da hipocrisia estalar
E eu daqui cair ao chão
me estatelar...
Sob os despojos da enfermidade de alguém

Dono e senhor do pensamento
caminho sobre os escombros do tempo
Não dando ênfase ao todo desprogramado momento
Que é ver a imoralidade espalhada e perfilada
sob autdors do incumprimento
Em campanhas que já nem iludem
o mais agonizado dos vómitos

"Para um futuro melhor"
"A favor de Portugal"
"Pelo interesse nacional"
"Há cada vez mais gente a pensar como nós"
"Rigor e solidariedade"
"Chegou a hora da verdade"

Tudo isto já não vinga
Tudo isto não chega para ser fado
Tudo isto é tão sinistro
que eu aqui ao colo me pergunto :

Será que vai haver algum lugar
onde eu possa aterrar o pés ?
Será que o tempo só nos revela o óbvio
feito fogos de Verão ?
O que será do amanhã se hoje
amorteço apenas as horas ?
Terei eu no tic-tac do tempo
um jeito de me acertar ?
Ou haverá no futuro uma factura a pagar
pelo pulso desadequado de um pulsar em nós projectado ?

Há uma idade em que a existência não tem B.I.
Em que um despertar não se reconhece em si mesmo
Em que divagar é o meio de apalpar o motivo...
Um desconforto
Uma direcção

Pergunto-me porquê
da chegada a hora da decisão ?
Desta existência que não existe
mas que persiste em existir
Encoberta de razão para não se evidenciar
Concluo que toda a informação depreendida
que não é exercida na prática
É convocada para o palco dos lamentos
Um palco que não alimenta
mas que sustenta a ideia
de um...
Podia ter sido

Gases tóxicos elevam-se do chão
Odores nauseabundos assomam-se dos corpos caídos
E num clima de podridão as cidades se espraiam indiferentes
Aguardando a maré de cada estação
a varrer os restos dos despojos rendidos

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

INSTANTES

Tenho saudades que me saúdam tanto


Como tanta é a noite dos dias que não amanhecem


Como banais são as manhãs ausentes  que me entristecem


E os finais de tarde que nunca se chegam a chegar a ti


Por insatisfeitos serem aqui...


Os meus instantes tão perto dos teus

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

CRUA A PALAVRA

No cru começo
Início
Parto
Liberto
Amassando a matéria
que não é prima
Quanto muito irmã
De um processo que se afina...
Que traz à tona
a essência da sua estirpe

Crua a palavra
Desenvergonhada
Que vai nua
Quando a distancia do pensamento e do traço
se exploram e corroboram
De um descomunal entendimento

Crua a noite
Cintilante
Pensativa
Companheira
Contemplativa
Esperando todos os dias as manhãs
Repleta de desejos
e de vontades
De não nos sermos cobardes...

Entraves impostos à rebeldia
Por sabermos que provimos do fundo de um grito




sexta-feira, 18 de outubro de 2013

PAIXÕES

Iludidos
Provámos
Frustrados
Dormimos
Na cama do desejo

Deliciados
Sorrimos
Saciados
Confundimos
O amor com a sede da paixão

Solitários
Ficámos
Carentes
Amealhámos
Vontades imersas no caldo do pensamento

Um dia havemos de voltar cá
A procurar
A remexer
e a esgravatar
Depósitos que ficaram algures num tempo...
Por realizar

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

CONFESSIONÁRIO

Confesso que me consigo ser na palavra mais alguém
do que aquele em quem
se enquadra no meu traço

Confesso que me sou muito mais ausente
do que o todo clarividente...
Presente
De um imediato

Confesso que sou o meu maior pecador
por me aproveitar tanto mas tanto
do proveito da minha inutilidade

Confesso que a minha loucura é errar
e que o acerto não é tanto a minha procura
Pois a forma pecadora dos meus actos
não se enquadram no mundo dos sensatos
Onde eu me afogo

Confesso que me minto por segredos
que jamais serão contados
Por omitir tanta verdade
disciplinada na liberdade
De escolher a solidão
Que uma vida fora do pensamento

terça-feira, 15 de outubro de 2013

QUIMERAS





Cega-me de boas intenções

Não vá a atenção reivindicar
um percalço teu
Envolve-me na utopia
de dar primazia á Primavera
Que te brotam dos cabelos
Mostra-me a essência
daquilo que sentes
Para que ao adormeceres
eu possa ser a meteorologia dos teus sonhos
Desnuda-te desse véu com que te encobres de receios
Para que um amanhã eu seja obreiro do teu acerto
E revela-me os rascunhos que não constaram nos teus passos
Para que eu possa ser muito mais que uma mera surpresa
Ao adivinhar os gestos que a subtileza precisa
para decifrar o rumo da nossa história

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

INDIGENTE

Vamos pensar-nos em comunhão
e juntarmos esforços
para atalhar o fingimento que nos assola ?
Ou...
Vamos ser perseverantes
de enfrentarmos as regras
não assumindo a justiça ?

Se é para ser vulgar e normal...
Então vamos o ser de maneiras concretas
E nos desvalorizarmos da gente
no mais completo dos indigentes
Que na vida se arrasta
e na rua se imola

PAZ DE ESPÍRITO

Melhor do que fazer...
É dar certo
Melhor do que tentar...
É mergulhar de caras
Melhor do que saber...
É não se deixar mecanizar
E melhor do que idealizar...
É por terra nas unhas

A paz de espírito
acena-nos de um lado e do outro
Nos extremos da nossa relatividade
Incitando-nos a queimar matéria e energia
Para que um dia possamos ser mais
do que uma mera formula... inerte

Todo o resultado para se discernir
tem que saber saltar a barreira
dos dois tracinhos que compõem a igualdade

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

A CIDADE

A cidade sou eu e as reticencias...
É um habitáculo de um carro
com o radio ligado
que não me diz o caminho...
É um telefone cravado no olhar
que não me presta atenção...
São os cheiros que não alimentam
nem os parcos sorrisos me sustentam
o território da alma...
É o alvoroço da pressa
a querer escapar
para não se denunciar
à futilidade...
São os toques mudos
que arrepiam o desalento
por camuflarem as mãos nos bolsos
a maior parte do tempo
o desapego da jornada...
São os passos no caminho
que dão fome aos passeios...
É a saudade que no alto da cidade
procura pelos pombos
que emigraram sem avisar que partiam
para se fazerem gente noutras paragens...
São as estradas as ruas e as artérias
que são sempre poucas
para alcançar tanta individualidade...
São as multidões impregnadas de lamentos
que se procuram por interrogações
respostas que nem são as suas...

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

DUALIDADES

Para existir
Para se saber...
Um dia até a duvida precisará de se duvidar para se convencer
Que para crer numa existência
tem de haver
dualidades que se concluam

Como o  intenso precisa do suave para se sentir
O amor também precisa de ignorar para se medir
A vida precisa da morte para se suster
O homem precisa da mulher e da sorte
para se ser
A semente precisa da terra para florir
e acreditar..
Que a certeza habita na união
Para prosperar
crescer
e se concluir

Para que a duvida exista
tem que haver primeiro a aceitação num acreditar
Pois a duvida para viver
tem que se crer algum dia em primeiro lugar

Um dia até a duvida precisará de se duvidar para se crer...

domingo, 6 de outubro de 2013

VITAMINA D




Um dia de sol quando bem aproveitado
tem de haver marcas no corpo...
E rugas a gargalharem no rosto 
por todo lado

sábado, 5 de outubro de 2013

PLENITUDE

Dá-me o mar

o vazio

a madrugada

Dá-me as fontes

a estrada

o horizonte

Dá-me o caminho

e não me digas nada

Ou então...

Dá-me os sonhos

mas não mos contes

DOR DO SÉCULO

Um homem só precisa de amar
se acreditar que lhe faz falta

O amor é a dor do século
É um desejo cultural
incapaz de explicar
o vazio animal
na sua constante procura

Quem procura crê
que algo lhe escapa
Num eterno alento de satisfazer
uma herança cultural
que aponta em todas as direcções...
Um mesmo caminho

Um homem só precisa de amar
se acreditar que o desconforto
é do tamanho do amor
E que na dor
é ele quem cura


terça-feira, 1 de outubro de 2013

GRITO DE IPIRANGA

Respira fundo
Aprende a albergar paisagens castelos e a beleza das flores
E inspira...
A dádiva maior que a vida nos dá é respirar

É um saber que não lhe damos ouvidos
por estarmos garantidos com o essencial
É um saber que rompe fronteiras
e aproxima o discernimento
É o saber que é a corrente de ar que amplia os espaços
com as certezas mais profundas
É sentir que para persistir na vida
à que saber simplificar para ir um pouco mais ao fundo
Até sentir um pouco mais do que um mero respirar

Todos os momentos em que nos surpreendemos
são novas etapas para ampliarmos novos horizontes...
Clarividências mais concisas
Que só quem se ventila com o devido acerto
é capaz de crer
e enxergar uns metros mais adiante
 
Da vida eu respiro
Respiro fundo
E quanto mais ao fundo eu vou respirando
mais eu levo dela

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

LÓGICA DO AMANHÃ

Tão lógicos que nos somos que nos esquecemos
que acordamos movemos e respiramos
tão parcos de nos sermos...
Toda a construção dos nossos dias
depende da informação que nos incita um caminho

Toda a escolha é uma soma de lógicas
e todo o passo um resultado de decisões
Tudo quanto vejo sem haver lógica
é um resultado que não se processa
Todo o pormenor ao longe
é um ponto despercebido
que não se aninha no foco em sua forma...
Pois a lógica tem mais apresso
pela dimensão dos factos
do que as distantes incertezas desprovidas de tamanho

A lógica depende então do tamanho dos factos
para nos mecanizar
E quando materializada deliberadamente num movimento quotidiano
ela é esquecida
Por nos movermos dessa mesma lógica do depreendido
numa verdade inquestionável
De um estimulo que muito embora tenha história
nos é virgem e esquecido de um passado de identidade
que nos foi um dia primário
Que evoluiu por dentro e se desintegrou...
A realidade é do tamanho da soma dos pormenores compartimentados
que jazem desconexos na memória
Buscando amanhãs lógicos que nos agarram à vida

terça-feira, 24 de setembro de 2013

NA SOMBRA DA ESCRITA

Aquele que nas palavras não encontra o caminho...
No destino não se acha

Aquele que nas palavras souber compor melhor o pensamento...
Será um desatento da vida

Aquele que nas palavras encontrar os sentimentos...
É na sua verdade fértil de solidão

Aquele que nas palavras buscar o seu pão...
É com certeza um ladrão por profanar oralidades pouco precisas

PROSPECTO

Quanto mais compulsivo eu sou nas palavras
Quanto mais limpo de pensamentos eu me declaro
Quanto mais busco na composição outras formas de me dar

Mais felicidade eu sinto
Mesmo que mais vazio e amplo eu esteja
Mais capaz e preciso eu sou
Quando me dou
por ingredientes
A receita da minha ausência

A felicidade deve ser mais ou menos assim...
Uma forma de extrair uma lógica que satisfaça mais ao espaço
do que uma maravilhosa essência prisioneira nas entranhas de um corpo comprimido
Que de alguma forma só é fármaco quando partilha com os demais interioridades

A escrita mesmo que aliada da solidão
ela não é inteiramente pensamento
por ser descrita
no desejo das caricias
de uma qualquer atenção

Um dia pego na vida e leio o seu prospecto


CÓDIGO DE BARRAS





A felicidade e o amor

são produtos que nos deprimem... 

Por não sabermos avistar no código de barras

 os objectos que trazemos para casa





segunda-feira, 23 de setembro de 2013

UTERINO

Evidencia-mos tanto os factos
E adornamos-os com tantas gravatas
de tantas cores
Que um dia
deixamos de acreditar
nas flores
E passamos a comer sopa de urtigas

Acreditar não é debutar as evidências
Nem é dar à boca espinhos
Mas sim...
Dar-se a provar do jardim
Dos campos que nascem sem fim
E ser como um fruto
que desabrocha do útero
Indolor a todas as contingências



domingo, 22 de setembro de 2013

QUANTAS VEZES SÃO QUANTAS



Quantas vezes te atrasas mesmo que intolerante sejas tu com a pontualidade ?
Quantas vezes pelo caminho colhes almas adormecidas ?
Quantas vezes esticas incessantemente os braços sem chegar ?
Quantas vezes te precisas sem tocar no que realmente precisas ?
Quantas vezes são quantas na inercia de sonhar ?
Quantas vezes te encolhes ou hesitas por não te fazeres crer ?
Quantas vezes necessitas para te assomares da pele e te fazeres à estrada ?
Quantas vezes são quantas para te valer de ti sem te valeres de nada ?
Quantas voltas são precisas para adornar um tanto querido ?
Quantas vezes te enganas no silencio daquele apetecido ?
Quantas curvas precisas para definir a decisão ?
Quantas vezes são quantas para tomares os gestos e as rédeas da acção ?
Quantas vezes são precisas para, o precisares ?
Quantas vezes são precisas para te adiantares à procrastinaçao ?
Quantas noites são precisas para no sono te acertares?
Quantas...
Quantas vezes te idealizas sem o esgar de uma única expressão ?


O tempo urge
A espera desespera
E o amanhã será mais um dia de oportunidades...
Perdidas

sábado, 21 de setembro de 2013

BOCÃO



A boca dormitório de queixumes é o próprio inimigo

quando não sabe calada engolir o perigo

De proferir palavras menos ajuizadas de ternura




sexta-feira, 20 de setembro de 2013

NÓ NA GARGANTA

O dia em que o sol se entardeceu na garganta
Um soluço nasceu
O corpo gretou
Regrediu...
Envelheceu
Num mudo pensamento

Fermentaram-se no estômago engolidos
despojos de matéria deglutidos
em ácidos incapazes de os converter

E calei...
Mudo e calado
caminhei
Vivi
Saqueei
Vidas de outras vidas tantas que eu já nem sei
Mas vivi
ainda que longe de ti eu me sentisse tão perto

A loucura é mesmo assim
Só perdura dentro de ti
para desafiar o compasso do rigor
Mas como nunca fui doutor
Deixem-me estar...
Pois nestas questões do amor não há meias voltas a dar

A não ser que se enfrente a criatura de frente
e se rasgue a barriga bem rente ao umbigo
Para lhe mostrar as entranhas
E não haverem duvidas tamanhas
tenebrosas castanhas
Das noites que embora ausente adormecia-mos juntos
Enrugados no meu travesseiro

NUM OUTRO LUGAR






Aqui ou noutro lugar ade haver reflexos
que as sombras outro`ra delinearam...

Lá para trás do que eu não avisto
certamente o imprevisto acena-me de algum lugar
Que daqui eu insisto só em divagar
por me encontrar tão de frente para a vida

HUMILHAÇÃO

A humilhação é um acto que se procura
É algo que se busca
que se afigura
No auto flagelo da loucura
Um desejo que na procura só encontra desdém

Quem procura a sua princesa
nunca encontrá sobre a mesa ninguém
Quem procura a fama
só se achará nas cinzas
Quem procura o amor
só se colherá por dissabores
e umas outras tantas contrariedades...

Quem procura está de facto perdido
Rendido em sua ilusão labirintica
Só quem assume o seu desnorte
Aceitando o caminho da sua sorte
É que não se desculpa com o azar
incessante de se procurar
daquilo que não se tem...
Só assim serás alguém
na alma de um corpo

A humilhação é um acto que se procura
que se busca
que se afigura
no auto flagelo da loucura
Um desejo de se colher desdém

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

SUBSTRATO




Na periferia da vida 
a palavra apenas soa
Tudo o que é periférico
é alterado da sua essência
O pensamento 
faz-se sentir com base nesses ecos
E a sua repercussão na carne
afluem como meteorito caído na crosta terrestre
Todo o pensamento que daí aflora
são fluidos estomacais
que não auferem a quantidade imensa do substrato corpóreo do pensamento


Um pensamento não dá alimento
mas dá-me muito que pensar...
Eleva-me para o monte das perspectivas
Onde nada me acrescenta na sua soma
e tudo me engrandece na medida em que se adorna
o sentimento ao corpo imenso
Na geometria analítica da minha forma

O todo não tem a racionalidade com que me iludo
se não a aritmética das coisas vãs

terça-feira, 17 de setembro de 2013

CORDÃO UMBILICAL

A sede que a coragem tem
é apenas um sonho selvagem sem pressa de se selar o dorso
Nas manhãs de hálitos apodrecidos

A realidade essa...
Não é real
O ar que respiramos
é induzido
O alimento que ingerimos
é obrado
Sugerido
Pela corja manipuladora de gestos e sentidos
Que nos obrigarão um dia
pelo o umbigo
a separar-nos da gente
Banido-te...
Num ser rendido de história

Tenho pena do tempo que se escapa
Choro as horas no monte das distracções
E iludo-me com uma justiça crua
quando me perco pela rua...
De um caminho para o monte

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

VINGANÇA



De nada nos serve a intransigência

A medida certa é muitas vezes 

uma perspectiva passada...

Nada correcta

e imaginada

para se condicionar com a regra

                                     Uma vontade de agora