quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

REEWIND da MELODIA

Amar é habituar as entranhas a dizer, que sim...
É emocionar a alma a rasgar fronteiras para abrigar pulsações, que não são bem as tuas
É convencer - nos com predicados um sujeito a viver em ti
E inabalarmo-nos com uma suposição, se nos momentos de solidão a distância nos fere em nós

Como é que admites amar se o teu gostar é apenas uma flor, sem os tons alaranjados e o sabor do néctar dos frutos amadurecidos?

Amar é o cúmulo de gostar
E por ser tão uno e pleno
Ele é indivisível
É confiante, seguro e sereno que a sua emoção é uma conjugação exacta de factores
Sem receios nem temores
Por ser de uma casta tão sadia

Amar é uma melodia, sabias?
Se te habituas fica-te no ouvido
Ganha cor
Flui
Irradia
Enobrecendo um espaço desengrançado  de sabor

Agora dá um play
E curte o bom som

P.S.
Até sempre... Reewind

sábado, 18 de fevereiro de 2017

CRIATURAS




Todo o homem é um ser oprimido
por não se saber exprimir
o que lá do fundo até à ponta do ouvido
é exatidão,
que pulsa sem hesitar

A alma que cala
É fruto que apodrece no chão
É receio que ao minuto entardece
É instante do dia que se apaga
É chave que não dá com a sua morada
É paixão que não dà ao coração motivos de se ensanguentar

Abstratas e arremessadas contra as paredes
crescem como raios,
fendas...
Nesgas escuras
Abrigando em seu habitat húmido,
estranhas criaturas
Que perecem dia e noite sem dormir
Até o pensamento se lembrar de as mastiguar e digerir,
defecando-as
 Num muro de lamentações

(...)

Um grito foi encontrado à deriva na calçada
em tons violeta, tal era a quantidade  de horas que oxidado se soltara do peito
Trazia cravado na sua estrutura uma ligeira curvatura em "tons" de sorriso
Dizem os estudiosos passivos e convictos, da santa igreja, de que,
após um estado aflitivo, se sobrepõem sempre
Um estado de graça

Haja  fé para que a maré de um quotidiano nos semeie por outras paragens...
Longe do húmido das rachas,
das nesgas dos muros
desta cidade

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

SIMBIOSE DA ARTE

Nenhuma obra nasce artística
A parte intrínseca de qualquer distinção prende-se mais com o suor do que com um ADN de genialidade.
A verdade é sempre tão dubia, que só quem assim o crê consegue dar aos seus gestos possibilidades de rigor na consumação da arte.

O artista não nasce
O artista talha-se e faz-se...
Através das sua próprias impurezas, motivos impares de distinção

A arte não obedece a uma casta ou uma estirpe artística
A arte é a parte indomável e intimista, com que o artista se  define em seus gestos selvagens.

sábado, 11 de fevereiro de 2017

CATARSE




O pensamento está para o Homem
como o destino está para o horizonte
Não o confrontes tão bruscamente
Pára
Respira fundo
E sente...
Permite-te avistar
Olha-o de frente
Para que as dúvidas não te escorram ao relantim, devagar
por entre uma extrutura, emaranhada, reciosa e tão divergente

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

A NOITE

A noite é o covil das sombras que se querem gente
É a vontade de haver nos corpos
o repentino do toque
Num arrepio efervescente
Que provoque na carne faminta e carente
O selvagem a querer-se nu
A crer-se crente
A crer-se ser, já !

A noite é da fome que a gula dorme de dia
É da luxúria,
 e desse desejo enorme
de sodomizar a fundo a apatia
Que regram  as privações e as vontades... Cobardes !
Que  choram por dentro outras realidades
Num grito reprimido de um sempre apetecido
e comumente vandalizado

A noite cresce obscena, ao sabor de utopias
Intensidades rítmicas propagam-se no eco
em sonorizando histerias
Grunhidas a quente
De corpos que se ardem dormentes
Que se escorrem em látexs molhados, por pingos de suor salgados
Em carências sem fim

A noite é o covil das sombras que se querem gente
É o escuro das formas a empurrar os gestos lânguidos...
Indecentes
Em busca de em seus passos poder alcançar
É o profanar a realidade incompreendida, ao extremo
E pisar sem se importar o arame farpado vermelho vivo e pleno
Do electrizante e tórrido vivo da chama

A noite é o covil das sombras que se querem quentes!

domingo, 5 de fevereiro de 2017

DIÁRIO

" A vida não é mais do que uma capacidade
intrínseca de procurar e arranjar soluções.
O viver que se distância desta matriz, definha em si mesmo."

Escrito e reescrito vezes sem conta, tal era a grossura da letra e o tom acentuado da cor, este era o registo que constava no início de um diário que diariamente se compunha, e que à mão, à muito se precipitara do seu começo.
Ela, uma mulher madura mas ainda donzela, procurou tentou e tentou, mas nunca encontrou abrigo nos braços de outro alguém, capaz de lhe soletrar ao ouvido tão bem, aquele timbre sempre apetecido que nunca houvera esquecido e que lhe causava tanto ardor.
Resignada existia só por existir, desequilibrada, resistindo à dor por não arranjar solução, elixir, para os problemas do coração justamente por saber diante mão, do paradeiro da emoção, da sua morada, bem como do seu respectivo código postal.
"Tudo é tão pouco se o tudo não tiver um pouco de ti"
Finalizou assim, naquele final de tarde, "gatafunhando" escrevendo e reescrevendo, registando no seu diário, como o fazia diáriamente, a frase que o imaginário à muito lhe soletrava e a consumia.
À mais de uma década que vivia a boiar nesta apatia, sem de fato se importar de nadar e irromper essa frente fria, que dizimam os corpos que deslizam sem pisar terra firme.
"Quem se apura com o tempo a tempo se há de afastar"
Bem vincado e várias vezes escrito e reescrito...
Neste estado lunar, os médicos dizem aos seus familiares que hoje, agora, já não sabem o que fazer. Neste estado "ela não pode andar por aí sozinha".
De facto já não se lembrava dos nomes de ninguém, quem é quem, se a chave era a da sua porta ou da porta da vizinha, se a sopa que tinha comido ao almoço era de feijão ou se comera uma canja de galinha, se trancara a porta do portão antes de subir para a casa ou se havia descalçado antes de ter entrado na cama na hora de dormir.
A sonhar passava os seus dias cada vez com menos lucidez, tal é o saque que provoca a embriaguez na memória, nos seus mais diversos quadrantes, de um passado de história.
Hoje tal como dantes não se esqueceu de escrever no seu diário, palavras menos léxicas, mais turvas, palavras cada vez mais confusas daquelas que não vêm no dicionário.
E adormeceu até ao fim, em volta do seu imaginário sem se recordar do cenário nem das ficções em que damos aos dias parte dos sonhos.

(...)

"Se voltasse a trás faria tudo igual, pois só assim me é possivel viver coberta de ti para todo o sempre"

Escrito na 1°pessoa do singular, este era o excerto da 1° página de um livro que fora editado sem fins lucrativos, e que por ser tão verídico se tornara viral,  sendo que à mais de uma década se mantinha no top de vendas em Portugal  e mesmo além fronteiras


sábado, 4 de fevereiro de 2017

VIAGEM



Amar é uma viagem onde toda a bagagem não é importante
 se não
 cada instante da tua ida

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

CÚMULO DO RIDÍCULO




O ridículo é a arte em que um qualquer conflito nos expõe...
Ser ridículo é tão fácil, tão prático, tão moderno, é barato, tão simples e é mesmo tão ridículo.
Vesti-lo e agasalharmo-nos dele está ao alcance de todos nós. Através de uma discussão, de uma quezília, de uma desinteligencia, de uma falta imensa de sentido de concretização
Para que se entenda com rigor o ridículo basta dar
 como exemplo... e há tanto de ridículo em tudo o que nos rodeia... uma discussão por sms.
Hoje em dia discute - se até por mensagens sublimando o cúmulo da ridicularização.
Discutir por sms está mesmo no top da estupidificação.
Uma mão que grita, que recorre desadequadamente à escrita, ao palavrão, que escreve de forma simplificada mas convicta que umas reticências no final de cada frase é a forma mais correcta e mais bonita para se chegar a uma brilhante conclusão.
Uma mão que escreve e se agita se do outro lado a resposta vier na contra mão.
Uma mão que decide
Uma mão que ilude
Uma mão que verbaliza incapacidade, por falta de atitude
Ésta sempre na palma das mãos, a opção pelo ridículo
Ahhhh...
Que falta me fazem os gritos!
Os gestos imprecisos da fala
O agudo distorcido da voz
O vocabulário embrutecido no tom
O olhar emotivo da alma
A calma distorcida da ponderação

Olhei para o telefone e carreguei na tecla "on" por 2 segundos.
Afinal de contas há momentos em que me desligo, e sem ignorar ao ponto de me tornar ridículo,
hoje apetece-me estar mais comigo
Hoje vou estar "off".