segunda-feira, 28 de abril de 2014

MALABARISTA

A cumplicidade de um gesto

reside

numa linha que separa 

o agir do pensar

No horizonte dessa linha

o pulsar esbraceja

No lado oposto deste extremo

a reflexão apenas medita

No umbigo destes dois polos

condensados num mesmo ponto

Qualidades e defeitos escorrem as gargantas

de passos equilibristas

Municiando o circense com aptidões de malabarista

Incentivando-o a caminhar em frente

Não olhando a sul

A partir sorridente

Não temendo o vácuo da queda


Um Passado só por si não passa

quando em linha recta um movimento não desata...

Um gesto que se quer fluído

domingo, 27 de abril de 2014

DEVOÇÃO

Quando a procura não tem cura

e não se encontra num verbo achar

Ela é devota !

Ela é cega, ela é bruta ela é torta...

De  numa oração, haver-se curar

segunda-feira, 14 de abril de 2014

RASGAR A FUNDO

Lembras-te ?
Talvez tenha sido só um impulso
Talvez tenha sido só um beijo
O momento em que o alado do desejo
nos fez viajar...
Rasgar o fundo

Lembras-te ?
De comer a fome contra a parede
E de embriagarmos a carne a transbordar de sede
Sem recear o cambalear da queda
Sem temer o chão...
O impacto de não haver rede

Lembras-te ?
De olhos fechados revirarmos o mundo
E dos nomes murmurados a cada segundo
com que batizávamos a carne
Qual deles o mais vagabundo...
Profanando o sal, para que o imoral  apurasse o pingo a so(u)ar

Lembras-te ?
Nada restaram das palavras se não os momentos
Nada ficaram das formas se não os silêncios
Em que presentes fomos irreais
No vôo picado de rotas ancestrais
Que clandestinos arriscámos em cada curva de gente

Lembras-te ?

sábado, 12 de abril de 2014

ESSÊNCIA

Se um dia não conseguires pintar os meus olhos no teu pensamento


Já mais me saberás a cor


Já mais saberás do pormenor e a rigor


Das caves procrastinadas do meu desejo





terça-feira, 8 de abril de 2014

ARTE

Mais uma pincelada
Mais um pouco de cor
Mais uma frase do nada
Mais uma réstia de pormenor
O artista vai compondo assim a obra
Sem supor
Se é no rigor que pulsa a arte da criação

Se a arte faz o artista
A homem renova a criação
O sonho aguarela um desejo
E a obra suavisa a imperfeição

Criar é preciso
Materializar tem que ser...
Um deliberado que se aprima numa rotina que se envaidece

sábado, 5 de abril de 2014

UBIQUIDADE


Na vida nunca irei saber o que é conceber um filho, das minhas entranhas

Mas sei que vou levar comigo o que é ser pai, e amar desgovernadamente...


O omnipresente não será seguramente só um todo divino 

quinta-feira, 3 de abril de 2014

GALÁXIA FEMININA

No mundo de desvaneios constato que uma galáxia virtual se instalou na ilusão das mentes femininas
Observo, formulo, apuro, experimento, verifico, e volto a experimentar...
Eureka!!!
É como vos dizia...
Numa galáxia virtual o sexo feminino devaneia ilusórias projeções, ousando ser tudo aquilo que chora
Usando e abusando do tendão de aquiles, para andar em bicos de pés
Imaginando-se tanto mas tanto, que chega a julgar-se num mundo real, que realmente tem toda essa real valia
No mundo real ninguém se procura assim tanto
No mundo real ninguém vos aborda constantemente
No mundo real há bem mais "o ser" do que "o parecer" que se é alguém
A simpatia e a simplicidade são néctares que os seres iludidos se esqueceram nos bolsos do tempo
Vai daqui o meu lamento !
Não tenho formulas nem conselhos para a doença
Tenho apenas os espaços e as palavras, por onde o branco de uma ilusão não me névoa o emaranhado do pensamento

terça-feira, 1 de abril de 2014

HEMERÓBIO

Tenho tanto rascunho agarrado a mim, que todos os dias me rabisco... Mais uns minutos.
Renovar é preciso, como precisas são as contrações das minhas vísceras, que "visceram" tanto, com um toque de pensamento quando por dentro a matéria é prazerosa
Leio e releio tudo o que ficou para trás, como houvesse eu vivido a acção de uma composição, que ficou por escrever.
Mas quando a quero recomeçar, muitas vezes já não consigo por falta de rigor, para compor um prometido, que ficou a prazo depositado...
Num tempo indevido
Breves são as dúvidas, perenes no seu questionar
Concluo então, que toda a acção tem a sua certeza
Toda a verdade a sua realidade, trincada por cima da mesa
E todas as paixões têm um espaço, esticado e efémore em suas reminiscências

Todas as palavras têm um tempo
Toda a fruta tem a sua estação
E todas as formas o exacto de um vago momento