terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

O TRAÇO DA UNIÃO

Um dia...
O dia será
Sem a duvida de um porquê
O encontro de um abraço
que é cego
mas crê
Na magnitude do toque              
de dois corpos que se amparam
                     
Naquele dia
conforme combinado
reconheci-te ao fundo do bar
De pé
No escuro
Indefesa
De braços cruzados
a segurar a certeza
Que em nosso peito à muito já dera flor

Dirigi-me ao teu encontro
rasgando o tempo na perpendicular
Ganhando metros à curiosidade
que nos arrastou com  vagar
Para este espaço
reflexo de contentamento
Que ousamos haver...
Que ousamos premeditar

Os sorrisos cumprimentaram-se
Os olhares fundiram-se
Aglutinaram-se
E todos os adjectivos
para nos caracterizar
afunilaram...
Com um hífen
o traço da união
Como que a afastar a suposição
do "se" inicial
Com a certeza umbilical
de um depois

Realizamo-nos num suspiro
Num abraço que fez história
tão bom que o foi concretizar
Que as horas fugiram...
Não as vimos passar
Que o concreto desapareceu...
Do tu mais eu
E o clique do toque
ainda hoje dá choque
na memória ilusória
De tudo o que foi...
Do todo que ficou por contar

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

2 RIOS

No vazio da existência
Lá no cimo das encostas virgens
Onde as nuvens estufam a terra
e o verde do musgo é a lama
A vida emerge por entre dois rios

No chilrear impreciso das águas
Dúvida e Confinaça
rompem da terra
para dar caudal à vida

Como um grito
que ganha eco à nascença
Cada rio faz das suas lágrimas
a força da sua potência
Na vontade de correr
Semeando caminhos
Trilhando cada qual os seus destinos
Improváveis de se alcançar
Simétricos na sua nascente
Siameses no seu definhar

Ávidos de desejo
Galopam  intensamente
ao sabor da corrente
Sedentos em se conquistarem
Intensos como um beijo
Súbitos num acreditar

Lá em baixo
ao longe no imprevisível
Há um horizonte capaz
por alargar
Há a surpresa do triunfo
nas veredas de uma sina
E há um tanto de receio e medo
num amanhã disposto a se adestrar


sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

TRANSCENDER


Entre o que eu falo e o que eu minto
habita o meu espaço exacto
Tudo mais...
São extremos de um sensato
que eu teimo em esticar
Entre os dias e as palavras
existem os silêncios da tua boca
Tudo o mais...
São singelas manhãs ocas
de uma Aurora que eu não vejo a passar


Entre a ilusão e o sonho
atenta é uma nuvem
Tudo mais...
São perspectivas que me seduzem
De moldar o barro
no movediço branco da imaginação
Entre a realidade e o sentimento
Vive o pleno da ignorância
Tudo mais...
é esta minha ténue esperança
De me ver transcender
Florescer
e de me ramificar

sábado, 2 de fevereiro de 2013

O MAR

Trago na memória
a história
mal contada
Os ecos
das palavras
que ao longe foram ditas
Carrego imagens desconexas
à muito que abandonadas
Distantes...
A boiar naufragas
Destemperadas
Neste mar morto sem sal
Sem vida

Silencio atroz
Movimento inerte
Profundidade infinita
É assim que me calo
e abafo a fonética
Neste meu mundo distante
onde a voz é contida

Há tanto silencio preso no meu olhar      
que as palavras derretem-se me pelas mãos
Sempre que ensurdecedor é o grito
Do mar
A dar vida e obra
a mais uma e outra composição