quarta-feira, 29 de maio de 2013

NÃO DIGAS NADA

 


   Não digas nada...

Atropela de silêncio a emoção que há num grito

      Não digas nada...

Ignora o que ficou para trás, para lá do instante da tua atenção

         Não digas nada...

Dá-me o passado sem ter que ser mudado uma vírgula

          Não digas nada...

E deixa-me apenas na memória que na história um dia fomos alguém

terça-feira, 21 de maio de 2013

O EXACTO DA FILOSOFIA

Se um dia a filosofia  se achar

e se descobrir sem se reinventar

numa verdade nua e crua

O homem passará a ser exacto

Um pensamento matemático

E um sonho será solidão

no escuro de uma noite fria

segunda-feira, 20 de maio de 2013

MAIS QUE ALGUÉM


Todo o caminho sem destino
É caminho algum
E todo o amanhã sem um despertar
Será um dia qualquer

A distancia é um obstáculo
que se afigura no meio das nossas vontades
E também um caminho de nos sabermos quantificar
O crer das nossas ilusões

Se amanhã eu não chegar
e tu não bateres à minha porta
Foi porque andamos distraídos
a moldar o algodão doce de um céu
Que nos caramelizou as mãos
e se desvaneceu da alma

No desejo
Há distancias tão breves
Vontades tão imediatas
E há caminhos que não são destinos
Sem a coragem de nos sermos

sábado, 18 de maio de 2013

PARTICULAR MOMENTO

Não há tempo nem hora para se criar
Para gerar vida não há um particular momento
Para se amar há só uma vida
E para se viver basta só estar atento

O amor e o afecto não se reivindicam
Acontecem...

sexta-feira, 17 de maio de 2013

CIDADE INDIGENTE

Hoje acordei mais cedo
Para ver a cidade a dormir
Para ser dono e senhor
das estradas a convergir
Nesta minha madrugada

Lá fora...
O silêncio da noite
escorre ainda pelas paredes
Aveludando o sono das vidas
Anestesiando as almas
diariamente esquecidas
Sob as pedras da calçada

Nos bancos e nos becos
Vislumbro papelões de gente mendiga
Restos nauseabundos de sombras
Carcomida
Pelos desígnios das regras e da moral
Deste Portugal c...Aníbal
Que defeca obra e dejecta
Indigentes

Ao longe...
Nas margem do rio
No enfiamento de um esgoto que se adivinha
Vejo dois vultos prostrados de gatas
a pescarem à linha
Subjectividades presas na ponta do anzol
E mais acolá
numa esquina onde à pouco era dia
Avisto uma mãe a dar à luz
a sua virgem Maria
Que sorri com  ironia  
de ter aguentado na placenta
nove meses de hóstia com agua benta

Anoto mentalmente a gravidade dos factos
E agonizo nas palavras
a muda melancolia...

Que forma estranha de se ser
quando da vida já não se sente
Valores que se desapegam da gente
No traço  ignóbil
de um olhar malfadado
Tímido
Indigente
Antigamente...
A desgraça tinha refugio para se abrigar
Hoje ela tem o dom da ubiquidade
Está em todo lado
Não se pode esconder
Nem tão pouco lhe podes escapar...

Lá fora...
A manhã sonolenta ainda jaze
Abraçada à noite passada
Clareando silenciosamente o dia
Sem pressa de se alhear
dos braços da sua amada

sábado, 4 de maio de 2013

REFLEXÕES

Há pequenos nadas que me dizem tanto
Há discursos que me dizem puta alguma
E há o silencio...
Singelo e preciso
Todo ele preso
na sua forma singular

O silencio que as palavras roubam ao espaço
deve no mínimo ser respeitado
Pois toda a métrica é imprecisa
para contemplar com exactidão
o pulsar inebriante de um ser
Por isso...
As evidencias de um olhar não são esclarecidas
Nem as palavras têm a capacidade
para sanar qualquer infortúnio
E no amor a dor existe...
Mas nunca da forma como a palavra se rouba ao silencio

Quando as palavras não são dignas
Todo o silencio chora

A fobia do homem é do escuro
mas é no silencio que reside o medo
Ele é bem mais fundo do que todo o negrume
e bem mais preciso que o ressoar de mil palavras
Evoluir será então
Talhar medo ao silencio
Detalhando-se por palavras precisas
para que o silencio impere à fonética
E nunca o oposto
De na boca falar o tanto que um ouvido não escuta

Se eu me acha-se por palavras
no mais claro dos dias
Daria-te respostas tão breves
A cada instante
e sempre precisas