segunda-feira, 21 de maio de 2012

OLHOS DE CRIANÇA




Na gravilha desta estrada
vou compondo no alcatrão poemas
Para que os caminhos
não sejam tão distantes
Nem as paixões uma contrariedade

Nas paredes da cidade
vou escrevendo canções de amor
Para que as andorinhas
voltem sempre com a Primavera
a construir os seus ninhos
sob os beirais

A cada passo que dou
vou compondo na terra fados
Para que calcados
Sejam semeados...
Rebentos
Num abraço
com aromas a manhãs de verão

No litoral deste olhar
vou alinhavando quadras...
Molhadas de sentimento
Para que as vagas do tempo
não sejam por nunca lamentos
Mas sim lembranças
Momentos
Dos dias que passaram
e que ficaram...
Em olhos lacrimejantes de petiz

sexta-feira, 18 de maio de 2012

SUOR


Moldo-me à pele
do teu traço
por me querer essência
Matéria odorífera
a flutuar...
Suspensa
Sob corpos nus
que se subtraem
e se atropelam...
Por entre lençóis
que amarram
e novelam
O orvalho
na teia de um suspiro

Adoro pingar de um sangue que é teu
Coagular nas paredes
os movimentos abstractos
Perspectivas
alusivas
à dinâmica dos retratos
Das posições sutricas
subordinadas...
Ao ritmo incessante do prazer

Entorno a cabeça ao céu
e apanho-te no extremo de um grito
Num êxtase molhado, prolongado e aflito
Em conter toda a satisfação
que da carne fermenta
Numa pele que não aguenta
A febre que do sal se escapa

Na cama semeados
Ficámos literalmente prostrados
Extasiados
A contemplar um tecto...
Pintado
Abóbada Sistina aguarelada
Geometricamente pintada
Por emoções
que a lógica
jamais irá um dia alcançar

terça-feira, 8 de maio de 2012

CUIDAR




Se o vazio um dia chegar
e no pensamento eu nada ser
Jamais serei paixão
Nem espaço em ti que me ampare...

Não me prometas o céu
se da terra não colhes a flor
Não prometas o mundo
se tens medo de viajar descalça
Não me prometas um amanhã
se no imediato
é sempre tarde de mais
Nem me prometas nada...

Fica apenas
e fecha os olhos
A cada beijo meu

Porque amar é utopia
daquele que vive na saudade
Amar é poesia
na palavra que o poeta esqueceu
Amar é um quase nada
que um quase tudo não sabe explicar
Pois amar
é um tão e somente apenas…
Num simples e só cuidar