Com o dedo indicador
apontou a direcção
e começou a desenhar um coração
na areia molhada da praia
Desenhou
desenhou
desenhou...
Mas o mar porém vinha e apagava
Incansável
rubricou o traço vezes sem conta
E quanto mais desenhava
mais afundava o seu dedo
Na ânsia de mostrar ao mundo
todo o seu apego
O que no fundo o flamejava
Mas contudo o mar sempre vinha, varria e apagava
Cansado do esforço inglório
resolveu fazer uso dos frutos do mar
que a praia o presenteava
E muniu-se das conchas e dos búzios
para assinalar o seu gostar
àquela paisagem...
Todavia o mar embrutecia
e de novo abalroava
Sentou-se a olhar o mar
e começou a meditar
Tentando entender o não acontecer
de um desejo que por dentro brotava
Então o vento soprou
As ondas da praia enfureceram
O céu fechou-se de nuvens
e escureceu
E foi aí que o rapaz entendeu
Que ninguém é mais alguém
só por se deixar ver mais além
Se sustento por fora
um corpo de estrutura não tem
Sem comentários:
Enviar um comentário