sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

ITERMITÊNCIAS

Todas as ideias
são ideias nenhumas
Quando a prática não experiência a rigor

Todos os momentos
são momentos alguns
Quando tu não abundas na minha atenção

Toda a satisfação
é satisfação nenhuma
Quando por migalhas me sacio
na loucura do apetecido

E toda a fartura é desprovida de regozijo
Pois bem sei que o prazer
é tão instável na sua satisfação

LUXÚRIA




A noite é o covil das sombras que se querem gente

(...)

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

BOAS FESTAS





A todos os anónimos

Marias e Antónios

que por aqui passam

e se banham no meu divagar

Os votos de uma óptima quadra Natalícia

sábado, 21 de dezembro de 2013

INCONGRUÊNCIA

Olhou-se ao espelho e não se contentou com a imagem
em que se reflectia
Sintonizou com minúcia o pormenor
e voltou a não gostar de se ver
Ao longe o reflexo depreciava a sua cotação
Havia qualquer coisa naquele dia por preencher
Uma carência com o estômago...
Dilatado pela fome
Uma ausência em si mesma
com falta de cor
Um gosto a cuspo engolido
num despertar de uma manhã qualquer
Ou seria a falta de um apetrecho da moda ?
Pois sabia que toda a justificação
é uma descarga da culpa
Rápida e simplista
Evoluindo em modos materialistas
Tentando justificar factos e ideias
da forma mais fácil e eficaz
Seria a falta sexo ?
Um desejo que saciado nos corpos
infecta os olhares sorridentes
e os deixa com a cara de bacalhau mal cozido
Ou seria uma noite mal dormida ?
Teria definhado na curva de um instante ?
Padecia de alguma agrura
que lhe traduzi-se a aspereza dos dióspiros no olhar ?

De fora para dentro
um dedo inquisidor
repreendia um corpo conectado à imagem do espelho
E eu ali á espera
Prostrado...
Sem saber bem onde me desligar da ficha

Um reflexo só é imagem
se nos permitirmos aceitar nas suas formas
Acatar o que vem de fora é como uma Aurora
Que pode muito bem ser dia
ou então mulher
Dependendo apenas da forma e da hora
em que acionamos o nexo
a dar lógica à sua passagem

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

GENUINIDADE

A paixão é uma obrigação
que a carne tem para com a alma
De a alimentar com vagar
e com calma
Toda a volúpia que um corpo carece
e padece
dentro de si

Beija-me molhado
e alimenta-me os olhos ao escuro
Para que um passado
nunca impere sobre o futuro
Nem a alma se esconda...
Na claridade redonda
Do remoinho afunilado
onde se apertam as estações

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

AO SABOR DA MARÉ

Com o dedo indicador
apontou a direcção
e começou a desenhar um coração
na areia molhada da praia
Desenhou
desenhou
desenhou...
Mas o mar porém vinha e apagava

Incansável
rubricou o traço vezes sem conta
E quanto mais desenhava
mais afundava o seu dedo
Na ânsia de mostrar ao mundo
todo o seu apego
O que no fundo o flamejava
Mas contudo o mar sempre vinha, varria e apagava

Cansado do esforço inglório
resolveu fazer uso dos frutos do mar
que a praia o presenteava
E muniu-se das conchas e dos búzios
para assinalar o seu gostar
àquela paisagem...
Todavia o mar embrutecia
e de novo abalroava

Sentou-se a olhar o mar
e começou a meditar
Tentando entender o não acontecer
de um desejo que por dentro brotava
Então o vento soprou
As ondas da praia enfureceram
O céu fechou-se de nuvens
e escureceu
E foi aí que o rapaz entendeu
Que ninguém é mais alguém
só por se deixar ver mais além
Se sustento por fora
um corpo de estrutura não tem




segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

VIVA O FRIO

Viva o frio...os cachecóis
O chá
As castanhas
E as rabanadas

Viva o frio...as emoções
Os abraços
As conchinhas
E as traquinadas

Viva o frio...os edredons
O vinho tinto
O peru assado
Os pinhões e as passas

Viva o frio...as paixões
O chocolate
O desejo
E as alvoradas

Viva intensamente o frio
Para que em cada arrepio
Hajam emoções
E prazeres que piquem a carne

domingo, 8 de dezembro de 2013

ILUMINADOS






Toda a religião 

tem a sua água benta

Toda a fé

os seus cacos de demência

Toda a oração

um seu quê de carência

E todas as profecias

Uma história que ninguém viu a passar

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

CONCRETO IMAGINÁRIO

De contrariedade em contrariedade
o homem cria automatismos para se justificar
do insucesso daquilo que não foi

Eu...
Sou o resultado deliberado
dos dias em que me automatizo
em soluções
Para justificar o insucesso
daquilo que me escapa

Sou assim o resultado
de automatismos que criei
para justificar o insucesso
daquilo que não fui
Daquilo que não alcancei

Posso então admitir
que sou mais resultado do erro
do que a excelência do êxito
É que o cumprimento de um objectivo
deixa a pessoa relaxada
Ao invés a falha ou um mau momento
põe alerta o atento
no achar e solucionar
Uma eventual saída

Serei eu um concreto imaginário de momentâneas contrariedades ?

FADO

Ó musica leva-me para longe
Tão longe de um fado que é meu
Dá-me o poder de existir
longe deste meu pranto

Faz-me julgar que existe um lugar
Um lugar que não é o teu
Faz-me viajar e imaginar...
Para fluir

Ó musica leva-me para longe
Tão longe de um passado que ardeu
Leva-me a voar no alado enfeitado
desse teu cavalo branco

Faz-me julgar que existe um lugar
Um lugar que não é só teu
Faz-me viajar e imaginar
Para fluir

Ó musica leva-me para longe
Tão longe do amanhã que eu não sei
Dá-me a beber do saber
daquilo que eu nunca vivi

Faz-me julgar que existe um lugar
Um lugar que não é só o teu
Faz-me viajar e imaginar
Para fluir

Ó musica leva-me para longe
Tão longe para onde eu seja alguém
Devolve-me às ruas e às estradas
dos caminhos que eu não percorri

 Faz-me julgar que existe um lugar
Um outro lugar que não o meu
Faz-me viajar e imaginar
Para sentir