quinta-feira, 30 de agosto de 2012

INSATISFEITO

O que me vale achar
Se ao encontrar-me
Tudo o que paira à minha volta
é incompleto...
Abstracto

O que me vale o sensato
quando o homem é inapto
No seu viver...
Inseguro na sua bravura

O que me vale a compreensão
se vivo num mundo sem fé
Injusto e inexplicável...
Sem razão

O que me vale o pensamento
Se tudo o que sinto por dentro
não cria raízes por fora...
É insatisfeito

O que me vale...
É a palavra!
É nela que me rendo
É por ela que me aconselho
e me defendo
Que este é um tempo
Em que o mundo dorme lá fora

sábado, 25 de agosto de 2012

TELEVISÃO

Acomoda-te ao sofá
e liga a televisão
Vem ver a desgraça
e a miséria a acontecer
Toda ela compactada
por mil canais de informação
E fingir que dá gosto
dar atenção...
Ao enquadramento da tela
que manieta e sequestra o prazer

Traz as pipocas para a sala
hoje não perco esta guerra
Onda de terror e sangue
dão o mote...
Ao top
da ignorância
Que a todos cega
Que em todos grita

No intervalo da barbárie
faz-se um zaping até ao parlamento
...mas por pouco tempo
Para não perder na segunda parte
...pitada
De uma família desempregada
que sobrevive na miséria
Com um pouco quase nada
do quase tudo que um governo subtraì

E de novo...
No epicentro do conflito
surge em directo um repórter
para nos dar conta
da intensidade de um grito
Preso na boca de uma criança
Que perdeu um seu ente querido
PAAAAIIIIIIIIIIIIIIIIIII...
Agonia pura
Coração partido
que é vê-la chorar
Em seu olhar distorcido

A desgraça..
A fome...
E a miséria...
Passam aqui todos os dias
Em primeira mão
Num plasma de uma casa qualquer
Que nos subtrai
e esmiúça em "polegadas"...
A atenção
Num corpo desacreditado de crer
Cinza de fogueira
sem chama para viver
Amarrado e preso
a um comando de televisão