domingo, 29 de junho de 2014

COMOÇÃO DAS VíSCERAS

A linguagem é uma doença que me
desatenta
Estranha forma de me querer explicar
quando a razão não tem se não letras para me persuadir...
Sem me premiar
um todo capaz esclarecimento  
Quisera eu compor um texto ao pormenor
com o rigor necessário para abastecer cada átomo do teu discernimento
E ainda que fosse iluminado num corpo outrora descriminado de gente
ainda assim seria tão pouco para te dizer
e precisar as emoções que comunicam num linguajar tão fora de métrica.
Tão distante de um entendimento.
Será talvez por isso que os livros quando provados não voltam a ser remexidos...
Pois em cada leitor, há uma alma que se desatenta
Que não se acalma .
Como uma sopa de letras.
Que por haver um caldo não se compõe...
Quando o seu interior abastece-se mais pelas comoção das vísceras.

Ainda assim vou compondo.
Deixando-me cair, como semente, que cai de costas, sem se importar de tocar a terra...
Sem imaginar que um dia irá brotar verde de esperança
Para agarrar ao longe um sol que ficou por tocar, no delirante imaginário da queda.

sexta-feira, 27 de junho de 2014

DE COSTAS

De costas, és de facto a mulher mais linda do mundo...
Perdão !
Bem sei o quanto os preliminares são importantes  para darem ênfase aos pormenores.
Quanto mais a uma frase.
Mas de costas, dizia eu, és de quatro a mulher mais bonita do mundo.
E digo isto sem qualquer tipo prepotência  da minha parte.
Digo isto sem te tirar o mérito
à carne da tua boca, que me lambe molhado  ...como uma louca ...
o seco da minha pele.                            
Ou à forma dos teus seios que me aprisionam  no teu colo, como uma criança na esperança de me achar... ou até de neles me perder sem me importar, com o rumo a onde irei ter.
Pois bem sei que no teu abraço  é também o laço onde me acho ao me dares um nó.
Mas de facto de costas como dizia eu, és de longe a mulher mais linda do mundo.
Forma perversa que me satisfaz  quando o prazer advêm de um verso...
Do teu verso !
Não é que não me satisfaças de frente...   Também acho que já te tinha dito isto.
Mas de quatro seguramente, devo-te confessar
Que somos mais que dois
Somos pedaços de gente, quase que ninguém





quarta-feira, 25 de junho de 2014

GULA





Aquele que alimenta a carne, só pela boca
não sabe, o quanto sofoca ...
A destreza de um pensamento
na sua prática

terça-feira, 24 de junho de 2014

MELODIA DAS MARÉS






Depois de tanto tempo... Sim, porque o tempo para os apaixonados é uma ampulheta com caroços de cereja a roçarem-se a custo por entre o afunilado de um vácuo... eles cruzaram-se nus (seminus) pela praia .
Ele passou por ela contraído e sorridente, tentando manifestar uma musculatura que nunca tivera, dos membros aos abdominais .
Ela passou com tal graciosidade por ele que alongou o seu 1,68 até tocar nos 70 .
Ambos fingiram-se triunfais nas vidas que derramavam .
Mas o que os denunciava, fora os seus passos imprecisos marcados sobre areia da praia .
Aquele instante fora eterno ...
Um tsunami ao longe ondificou o mar, e a praia estarreceu... os arrepios que pontificaram a pele dos seus corpos, deram composição a histórias idílicas, de deuses que erram para apurar a perfeição .

O sol de Verão fazia o mercúrio da maresia espraiar-se pela maré fazia, dando mais palco à encenação das almas que se choram.
Ele e Ela...Sim, porque ele e ela cabem em tantos nomes... geometricamente posicionados, espreguiçavam as toalhas de modo a se fazerem sentir notados, no foco prazeroso do tremendamente desejado .
Ele prostrado na sua toalha ganhava estrabismo, ao querer alcança-la por detrás de uns rayban escuros.
Ela precipitadamente deitada, apoiava a sua cabeça no nada... no seu saco de praia, dando-lhe assim ângulo para a leitura de um livro, em que o actor principal veraniava a poucos metros de si .
Depois de vários caroços se aninharem naquele tempo... Houve um momento em que a hesitação da ponderação baixou a guarda, e os seus olhos ao cruzarem-se ganharam vias.
Autoestradas magistrais que irropem caminhos secundários, dando aos mortais promessas de se chegarem (mais à frente) mais rápido !

A onda de tsunami que lá atrás se vinha formando, colidiu com a praia abalroando os corpos sem estrutura num mesmo caldo, desfazendo uma gravidade para longe dos gestos, tornando os movimentos mais cumplices de uma qualquer sedução

Irmanados pelo encadeamento da fixação, comunicaram-se por sorrisos e olhares tão invulgares que não pediram obediência à razão ... E aproximaram-se .
E de novo como crianças tremeram e coraram .
Ela deu-lhe a mão e apresentou-se, como havia feito ele há uns anos atrás no liceu .
Num solavanco ele puxou a mão dela, de modo a ficar numa posição que lhe permitisse trautear o seu nome ao ouvido, e se embriagar de novo de sentido, no aroma dos cachos dos seus cabelos .
Agora pequenas evidências brotavam na pele, marcas que a distancia talhou .
Agonias e torturas inflingidas pela pirataria dos pensamentos moldavam agora sulcos nos seus olhares .
Ela trazia tatuada na carne, nomes e datas, de momentos que não eram os seus .
Ele denunciava nas formas como se gesticulava despigmentação no dedo anelar, causada por uma aliança que de facto nunca fora verdadeira, na união de um casamento .
Todas as ideias eram parcas para presentearem aquele instante por palavras .
Todos os olhares, ao redor, eram subliminares de uma ignorância extrema .
Eles e Elas naquela praia eram mais que muitos...

O sol lá em cima, a mais de 40º queimava o mar... e toda a ordem da espécie .
A praia ao longe era feita de histórias Deles e Delas .
A bandeira amarela anunciava o Tsunami em ondas que esticadas, acareciavam as conchas e os buzios com a sua espuma .
E as marcas na areia eram diariamente apagadas pela maré, que todos os dias bebiam melodias nas histórias insignificantes da gente

segunda-feira, 23 de junho de 2014

SUPERAÇÃO

Viva o ciúme
Viva a angústia e todos os queixumes
Que nos arrebatam e destinguem as entranhas da alma

Vivam os lamentos    
Vivam as lágrimas  e todos os tormentos
Que nos escorrem caminhos mais estreitos de inquietudes nefastas

Viva o grito
Vivam os berros quando aflitos
Que reenvendicam a liberdade dos pensamentos aprisionados na
garganta

Vivam as contrariedades
Vivam todas as revoluções
Que nos conferem por manifestações um saber ausente de cobardia

Viva a dor
Viva a paixão cega de amor
E todos os dias em que um despertar se faça com carinhos
mesmo que os desatinos, lá fora sejam difíceis de entender

sexta-feira, 20 de junho de 2014

INSANO

Preciso de alguém que me dê mais cor à
minha loucura
Alguém que confira ao duro
o fofo da ternura
Alguém
que me dê afecto e direcção...
Nos momentos em que ausente sou insano
na minha satisfação

quarta-feira, 18 de junho de 2014

NADA EXISTE !

"No dia em que partir, um de nós irá voltar para revelar uma vida no além"


Prometemos                                        
Jurámos
Mas tu não voltas-te
E eu aqui fiquei
À espera...
Que a vida me envolva e me devolva
cada instante dos dias que desprezei

É melhor assim !
Saber que depois nada existe
Assim talvez aproveite com vagar
o tempo que insiste em correr...
Em passar
Deste para esse lugar
onde depois um nada porfia

Uma guerra perdida
Um desejo inócuo
Uma lógica anárquica
Um silencio aterrador
Uma prova catedrática que secumbe
A fé e toda a chama que inflama

Porque será dificil aceitar um fim ?
Entender a morte como necessária
Onde depois, um nada existe
mesmo que persistas em contradize-lo

A dor existe para quantificar o deleite
dando agonia à vida
E uma lógica que traumatiza os seres desprovidos
na complexidade da direcção

domingo, 15 de junho de 2014

O IMPREVISTO DA PREVISÃO




Quanto nos devemos ?
Haverá uma fórmula
Haverá exactidão
Quanto nos prometemos ?
Haverá um número
Haverá aproximação
Quanto nos choramos ?
Haverá sangue
Haverá dor
Quanto nos iludimos ?
Haveram palavras
Haverá rancor
Quanto nos cremos ?
Haverá fé
Haverá uma oração
Quanto nos amamos ?
Haverá amor
Haverá união
Quanto nos mentimos ?
Haveram culpas
Haverá vergonha
Quantos nos fingimos?
Haverá remédio
Haverá ronha
Quanto nos negamos ?
Haverá disciplina
Haverá um não
Quanto nos perdemos ?
Haveram caminhos
Haverá salvação


Toda a nobreza é eterna
Bem como eternos seremos nós
Insatisfeitos até á gula

quinta-feira, 12 de junho de 2014

MANIPULAÇÃO




No mundo onde a publicidade aponta os caminhos
Há oásis húmidos e verdejantes
Há destinos desertificados e distantes 
Há uma esperança mendiga na taluda
Há uma ajuda que suga mais do que confere
Há o pecado das mulheres que se dizem castas
Há promessas de sangue não cumpridas
Há vidas em capitulos que não chegam a ser histórias
Há memórias manipuladoras que não conferem cor
Há um sabor preso nos rótulos em decomposição
E há um monte de haveres no gizo serpenteante da ilusão
Ser comido pela terra ou ser papado sobre o chão 
Eis a questão...
Realiza

domingo, 8 de junho de 2014

INEVITÁVEL

Prever e entorpecer-se  
Gostar de se iludir
Querer solidificar-se
Amar e partir-se

Deixar-se ir...
Dividindo-se
Deixar-se levar...
Deste para esse lugar

Antever uma situação e não se prevenir
Prever um acontecer sem assim se infligir

Ora aí está uma boa definição de amor :
Antever uma situação e não poder fazer nada

sexta-feira, 6 de junho de 2014

WELLE




"A emoção é como uma onda...
Que individual não se pode manter por muito tempo na sua forma "

quarta-feira, 4 de junho de 2014

PECADO

Depois da sensualidade
Trouxeste o prazer
Depositando a alma e a carne como havia de ser
Presente...
Bem rente da minha pele

Vibrei...
Ou melhor, vibramos
Com os dias mesmo antes do anoitecer
E demos significado ao pecado
de não haver cumprido um assinalado
Rol das regras
Por entre o emaranhado do deleite

Tu eras casada
E eu era casado com a vida
Tu eras comprometida
E eu corrompido pela luxúria
Amante confesso do que a imaginação chora

O pecado foi levado á boca
O desejo foi comido pelas mãos
A gula foi desmedida e lambida até à exautão
O prazer foi acreditar que em todo o lugar estavamos aqui...
Num êxtase da união

Provamo-nos até ao horizonte do pecado
Acompanhamos ritmos para lá da pulsação
Tudo para nós era troco
Demasia que nos bolsos se esquece e se gasta sem qualquer exactidão

Todo o pecado tem uma sombra
De um tom negro profanado
Um lado B saboroso ainda que errado
Que apazigua a irracionalidade deslial
dos corpos acupulados (...)

Ao longe sorris para mim
Deste meu lugar já não te presto atenção
O que foi vivido destinguido será
E o que foi perdido
ignorado partirá em vão

PONTES

A maior obra do sentimento são as pontes
São sempre pontes !
Pontes de dois extremos que contagiam um caminho
Conexões capazes de embriagar vorazes
sempre que motivados nos aproximamos de um extremo
Pontes de equilibrio onde malabaristas se articulam
suprimindo o desconforto do perigo
Na iminência da queda
Pontes fantasmas edificadas do nada
Vias que não foram estradas
Conexão que não se consumou

Pontes e pontes
São sempre pontes
Pontes embaraçadas por outras vias definhadas
desnutridas, ancoradas
Onde outr`ora a malha se compos

Neste lado onde fiquei
algures no outro lado do rio
Olho agora para o horizonte tardio
e vislumbro no pensamento os destroços
Onde edificamos a nossa ponte
Num espaço aereo hoje vazio
que sem manutenção um dia ruiu
Desmorenando-se
Sem deixar rasto no avermelhado e salgado deste mar
Que varre o profundo do mundo
com a certeza que tudo se renova

domingo, 1 de junho de 2014

INSTANTES





A perspectiva nem sempre te assiste
Ainda que insistas em te perspectivar

As formas têm um ângulo exacto
Ainda que excêntricos sejam os seus cantos

Os momentos não existem certos ou errados
O que adorna o tempo são as definições


Divagações cogitam para o espaço, como o branco afoito de um instante, que há pouco num quase nada não o emendei...

Os melhores pensamentos que tive na vida foi enquanto sonhava
e não me importava de os suster ou manter se não dormir
Para deixar fluir
toda a amálgama em mim depositada
A dormir talvez simplifique as agruras na sua causa
Formantando a unidade
Ainda que o saiba, todos os dias me complico...
Em mais uma ida tardia para a cama

Todo o pensamento que não me tira daqui e não me faz fluir ou dormitar,
são pensamentos que apenas me roçam sem arranhar
Assomando instantes rápidos e indeléveis, a se deciparem

Traço após traço vou compondo cada uma das minhas olheiras
para que cada olho tenha o seu beiral
Que modéstia e á parte nem me ficam nada mal
para justificar o redondo dos meus olhos precisos