quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Iludido


"...Não há noites tão longas que não encontrem o dia..."

Nem estruturas desequilibradas
Que não se encontrem num passo


Quando me perco da atenção
Tudo faz sentido
Quando me encontro na ilusão
Tudo faz sentido
E já nada faz sentido
Quando a atenção na ilusão em mim não mora


O sentido é tido
Quando a atenção em mim és tu
O sentido é tido
Quando em tua atenção eu estiver
O sentido será iludido
Quando a atenção só em mim se achar

A unidade apenas existe
Para nascer e ao morrer
O ser para viver...
Seremos!
Como num passo
Que no singular saltita
e que só num plural caminha

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Cores sob cores


Assoma do alto de mim
Para que a olho nu
Aviste a grandeza da pequenez

Conta-me histórias
em retalhos de novelo
Para que em seus pedaços
A ideia não se disperse
...nem despereça

Dá a volta à serra
Rompendo novos horizontes
Descobrindo odores e outros sabores
Para que a perspectiva
Não entorpeça
Nem a escrita envelheça
E a palavra vá ganhando tons...
Cores sob cores

O arco-íris vai arredondando
A malha colorida vai-se compondo
E o vazio de um espaço
ruboriza agora, as cores da definição
Para que o antes e um depois
Se contemplem sem questionar
Num beijo aromático
Perversamente excitante

terça-feira, 20 de setembro de 2011

O guião o improviso e a surpresa


O nosso encontro só podia ter sido perfeito
Eu com tudo planeado...
Jantar, conversa e um bom vinho para beber...
E à tua chegada esqueci-me de tudo
Que o muito já era bem pouco para te oferecer

Quis surpreender-te com as estrelas
Mas no brilho do teu olhar me perdi
Ao ver que descodificavas o esquema
Do guião escrito e planeado para ti

Rasguei os papéis e assumi
que a simplicidade valia mais a pena
Do que um céu estrelado
Ou um guião bem montado
Que teria que ser eu mesmo
Sem receios
Nem cautelas num passo improvisado

Rendi-me assim às evidências
Ao desarme do teu sorriso
E saímos endiabrados
Rumo ao destino...
A caminho do improviso
E não é que acertamos!
O paraíso era já ali

A lição que ficou foi bonita
O guião o improviso e a surpresa
Teatralidades num palco da vida
Passados presentes que substanciam
A nossa Natureza

A bruma de um todo


Tudo o que é escrito é apenas
O resumo do um todo
...o quanto fica por dizer
E tudo o que se cala
Será apenas a parte de um sonho
que teimamos nas noites em recordar

domingo, 11 de setembro de 2011

Morde-me cão


Morde-me cão
Injecta-me de raiva
Para bater de frente
com a regra infligida
Faz-me uivar cânticos
pela noite perdida
Para que no amanhã
a aurora desperte diferente

Morde-me cão
Injecta-me de raiva
Espuma da minha boca
a agonia que corrói
Castra do peito
a opressão que destrói
Para que em meus passos
eu ande direito

Morde-me cão
Injecta-me de raiva
Corta-me o sangue
Se beber for preciso
Morde-me a carne
se de fome carecer
Para escapar à demência febril
do ser...
Que ignora e cala

Morde-me cão
Injecta-me de raiva
Para fintar a dormência de tempos idos
Para agarrar momentos capazes e conseguidos
E recordar silêncios...
Encriptados na pele daqueles
Que um dia em mim ficaram

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Sopro do vento


Do mar pesco o sal
que da terra a vida não dá
No céu planto o sonho
que da árvore a terra não cresce

Tudo é vazio...
quando um espaço é insatisfeito
Tudo é um sonho
Quando uma brisa rompe um espaço
... de reticências

Um dia tudo será
No sopro do vento
Em algum momento...
Matéria que se fará

Água e Sal


Se eu fosse amar e tu gostar...
O que seria da paixão?

Se eu fosse sentimental
e tu parca de afectos...
Que cor teria o sentimento?

Se eu fosse água e tu o sal...
De que mar seríamos nós?

E se eu fosse palavra e tu canção...
Quais os ecos em nossos cânticos?

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Selvagem


Procuro dúvidas em mar alto
Mas da praia não as avisto
Procuro pra lá do horizonte
Na curiosidade incerta do imprevisto

A curiosidade é meu deleite
Que suavemente piso com satisfação
É vento que induz movimento
Instigando contentamento...
Alimentando a paixão

As amarras do cais são soltas
e a dimensão da terra é perdida
O ser selvagem emerge curioso
Com instinto de se agarrar à vida

Arrisco...
Petisco...
Aproveito...
Invento...
E volto a inventar
Na aurora de um novo dia
A cada um novo despertar

Quando a curiosidade é selvagem
Tudo é sugestivo