quinta-feira, 20 de agosto de 2015

ESPASMOS DE DEPÊNDENCIA

Morde-me !
Morde-me a boca
Morde-me a voz até ficar rouca
Morde-me a paciência até sangrar
Morde-me as formas para me provocar
Espasmos de dependência
Morde-me!
Morde-me a fome
Morde-me o corpo que dorme combalido
Morde-me o sono que jaz adormecido
Morde-me os dedos
Morde-me, bem mordido...
Morde-me!
Morde-me o pulsar intermitente da garganta
Morde-me a alma, seja santa ou não
Morde-me com gosto
Morde-me à séria
Morde-me!
Morde-me sem receios do medo
Morde-me com nervo, até ao fundo
Crava-me os dentes até à dormência de um moribundo
Morde e rasga-me o mundo
Morde-me agora não me mastigues

sábado, 8 de agosto de 2015

GRAVIDADE 0

A pior altura para se gostar de alguém, é nas alturas...  
É sempre nas alturas que a distância nos apequena
É no acto da descolagem de um avião que nos apercebemos, o quanto os pés amam a terra.
E nesse instante acreditamos que até os "pés" podem servir de escala para dar métrica a uma distância que nem com amor os atacadores nos prendem à força da gravidade
Que na realidade é muito mais grave do que apenas uma força de correlação com a terra
A altura pode muito bem ser o momento capaz em que por dentro as entranhas nos revelam
Pode haver nessa atmosfera precisa o comprimento necessário para admitir à pulsação que o bombear de sangue tem muito mais rigor quando um coração é ajudado por uma alma cooperante que lhe dá atenção e vias motivantes, para que os sonhos distantes possam ser melodias na pele, como as Auroras o são para os dias, num sempre e de novo eterno recomeço
É sempre lá em cima nas alturas que somos mais parte de nós. Altura em que nos assomamos da carne para dar voz ao sentimento, a uma moinha que nos dilacera por dentro a capacidade de ir mais além
A altura é lixada!
A distância também. Mas com a distância basta haver pé no amor para que um mesmo caminho se percorra.
Já com as alturas, e sem pé na porra da compostura só o equilíbrio no colo dos braços de alguém, que se por acaso não tiver embarcado restar-nos à, soluçar, engolir em seco e prometer ao amado, no céu um mundo

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

NOSTALGIA

Atrás de um "se" esgueirou-se um momento  
Aconteceu e morreu o instante
Desvaneceram-se as horas, num acaso que por aqui passou
Olhando as almas lá ao fundo  não se dão conta dos segundos, a pulsarem moribundos, num pulsar de pulso educado e condenado a aquietar-se
E pondo as mãos nos bolsos dá-se o clic de um despertar, tateando a fundo... do forro.
Um vácuo de nada que por cá ficou
Chegam então à recordação momentos
Chegam-nos não se sabem bem vindos de onde
E sem questionar da sua casta, vamos atrás deles, como perdigueiros que ousam ter todas as respostas na ponta do seu nariz
Eis que um desses momentos varre o mar como uma onda que antes de rebentar nos assombra, descosendo o ponto da cicatriz, libertando a nostálgica saudade

Vagos são os momentos em que nostálgicos se mastigam argumentos sem exatidão