sábado, 23 de abril de 2022

LEPIDÓPTERO

 



Para lá desta falésia há um mar que se esconde.

Entre a realidade de sentir e a ficção, da linha do horizonte.

O vôo da imaginação a pairar sob o azul do céu, a voz da terra a querer-se erguer, e uma sede de beber a água dessa fonte.
O vento a chamar por ti, uma lágrima a serpentear o rosto, e uma ânsia de despir o frio que há no desgosto.
Tão longe vai a coragem, mais forte é o desejo e a saudade de me ser no teu ventre de mulher.
Aqui distante é a miragem mais perto é um haver e a felicidade é tão grande em mim, nesse instante onde estiveres.

O amor é uma metamorfose onde só as mais belas borboletas vingam

segunda-feira, 11 de abril de 2022

SORRIDENTE




 Mijou prás mãos para aquecer a alma...

O vento frio daquela madrugada de Inverno fazia crer que a qualquer instante seria possivel ver um urso polar a bramir por ali.

Limpou ou melhor secou, as mãos às calças imundas, e em concha expirou fundo por entre o vácuo das palmas das suas mãos. 

A vida na rua tinha-lhe dado morada, há uns não sei quantos anos a esta parte.

E com a vida completamente enxuvalhada, os quadrados das pedras da calçada eram tatuados diáriamente sobre a demência nua, no corpo cru daquela disparidade.

Olhou para o alto, onde uma luz ainda acesa assinalava vida, ao longe embrutecida nos prédios daquele bairro, e sem  motivos... Sorriu.

O esquecimento era o seu maior dom, e por não trazer registo de um entristecer, sorria para tudo e por nada. Mesmo nos dias em que a fome, a chuva e o frio  apertavam, o seu sorriso era sempre preciso, na forma como enrugava as expressões, na contextualidade do seu rosto.

Aquela alma tinha-se perdido de um passado, tinha-se afastado tanto dos dias com sabor a rotina que sem carteira nem documentos que o identificassem à sua sina, por ali foi ficando... Sorridente.

Até o deambular do esquecimento o levar, daqui para acolá, para uma esquina um pouco mais além.