segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Exactidão


A palavra dura o tempo exacto
de um momento
Que na ponta de uma caneta
Desliza sob o desígnio
da oração

O segredo dura o tempo exacto
de uma brisa
Que na evidência de um gesto
Murmura curiosidades
em aromas de paixão

A recordação dura o tempo exacto
de um eco
Que num vale côncavo
grita com energia uma eternidade

A vida dura o tempo exacto
de um arrependimento
Que num instante...
Do tempo
Degenera
ao sabor da insanidade

A poesia é um sonho dentro da utopia
Num perfeito e definido discernimento

sábado, 24 de dezembro de 2011

Acerto


A perfeição
é delírio
O erro
realidade
O acerto
a procura
Um fado
é a saudade

A vida
uma história
O amor
um destino
O sonho
na memória
O passado
num caminho

O erro só existe porque o acerto é uma realidade

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Iludido


"...Não há noites tão longas que não encontrem o dia..."

Nem estruturas desequilibradas
Que não se encontrem num passo


Quando me perco da atenção
Tudo faz sentido
Quando me encontro na ilusão
Tudo faz sentido
E já nada faz sentido
Quando a atenção na ilusão em mim não mora


O sentido é tido
Quando a atenção em mim és tu
O sentido é tido
Quando em tua atenção eu estiver
O sentido será iludido
Quando a atenção só em mim se achar

A unidade apenas existe
Para nascer e ao morrer
O ser para viver...
Seremos!
Como num passo
Que no singular saltita
e que só num plural caminha

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Cores sob cores


Assoma do alto de mim
Para que a olho nu
Aviste a grandeza da pequenez

Conta-me histórias
em retalhos de novelo
Para que em seus pedaços
A ideia não se disperse
...nem despereça

Dá a volta à serra
Rompendo novos horizontes
Descobrindo odores e outros sabores
Para que a perspectiva
Não entorpeça
Nem a escrita envelheça
E a palavra vá ganhando tons...
Cores sob cores

O arco-íris vai arredondando
A malha colorida vai-se compondo
E o vazio de um espaço
ruboriza agora, as cores da definição
Para que o antes e um depois
Se contemplem sem questionar
Num beijo aromático
Perversamente excitante

terça-feira, 20 de setembro de 2011

O guião o improviso e a surpresa


O nosso encontro só podia ter sido perfeito
Eu com tudo planeado...
Jantar, conversa e um bom vinho para beber...
E à tua chegada esqueci-me de tudo
Que o muito já era bem pouco para te oferecer

Quis surpreender-te com as estrelas
Mas no brilho do teu olhar me perdi
Ao ver que descodificavas o esquema
Do guião escrito e planeado para ti

Rasguei os papéis e assumi
que a simplicidade valia mais a pena
Do que um céu estrelado
Ou um guião bem montado
Que teria que ser eu mesmo
Sem receios
Nem cautelas num passo improvisado

Rendi-me assim às evidências
Ao desarme do teu sorriso
E saímos endiabrados
Rumo ao destino...
A caminho do improviso
E não é que acertamos!
O paraíso era já ali

A lição que ficou foi bonita
O guião o improviso e a surpresa
Teatralidades num palco da vida
Passados presentes que substanciam
A nossa Natureza

A bruma de um todo


Tudo o que é escrito é apenas
O resumo do um todo
...o quanto fica por dizer
E tudo o que se cala
Será apenas a parte de um sonho
que teimamos nas noites em recordar

domingo, 11 de setembro de 2011

Morde-me cão


Morde-me cão
Injecta-me de raiva
Para bater de frente
com a regra infligida
Faz-me uivar cânticos
pela noite perdida
Para que no amanhã
a aurora desperte diferente

Morde-me cão
Injecta-me de raiva
Espuma da minha boca
a agonia que corrói
Castra do peito
a opressão que destrói
Para que em meus passos
eu ande direito

Morde-me cão
Injecta-me de raiva
Corta-me o sangue
Se beber for preciso
Morde-me a carne
se de fome carecer
Para escapar à demência febril
do ser...
Que ignora e cala

Morde-me cão
Injecta-me de raiva
Para fintar a dormência de tempos idos
Para agarrar momentos capazes e conseguidos
E recordar silêncios...
Encriptados na pele daqueles
Que um dia em mim ficaram

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Sopro do vento


Do mar pesco o sal
que da terra a vida não dá
No céu planto o sonho
que da árvore a terra não cresce

Tudo é vazio...
quando um espaço é insatisfeito
Tudo é um sonho
Quando uma brisa rompe um espaço
... de reticências

Um dia tudo será
No sopro do vento
Em algum momento...
Matéria que se fará

Água e Sal


Se eu fosse amar e tu gostar...
O que seria da paixão?

Se eu fosse sentimental
e tu parca de afectos...
Que cor teria o sentimento?

Se eu fosse água e tu o sal...
De que mar seríamos nós?

E se eu fosse palavra e tu canção...
Quais os ecos em nossos cânticos?

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Selvagem


Procuro dúvidas em mar alto
Mas da praia não as avisto
Procuro pra lá do horizonte
Na curiosidade incerta do imprevisto

A curiosidade é meu deleite
Que suavemente piso com satisfação
É vento que induz movimento
Instigando contentamento...
Alimentando a paixão

As amarras do cais são soltas
e a dimensão da terra é perdida
O ser selvagem emerge curioso
Com instinto de se agarrar à vida

Arrisco...
Petisco...
Aproveito...
Invento...
E volto a inventar
Na aurora de um novo dia
A cada um novo despertar

Quando a curiosidade é selvagem
Tudo é sugestivo

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Lágrimas


Num espaço absoluto e infinito
Abraçaste o teu pai
Com a vontade de um grito
Dizendo-lhe num abraço eterno
... e bonito



PAI... TU ERAS O MEU MELHOR AMIGO

Sob uns óculos escuros ignorantes
A lágrima escorreu-me do rosto
Denunciando sob um "óculo posto"
Uma lágrima derramada...
Que me acusou num quase nada
O quase tudo que sou

Rendido revelei ao mundo
A minha tristeza
Assomando com clareza
A minha vontade de gritar
Expressa numa lágrima
Capaz de me denunciar

A lágrima que lava o rosto
Busca no seu leito
Os caminhos da verdade
É ela que pincela um olhar triste
E aguarela o choro da felicidade

O sentimento fica tão despido
quando a palavra é filtrada
... e amada
Na afeição de um gesto
Que o frio que de intempestivo
Torna a tristeza abençoada
De uma lágrima chorada
Num acto controverso

Fica sempre tanto por dizer
Fica sempre tanto por contar
Fica sempre tanto...
Quanto num pranto fica por chorar

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Serenata de improviso


Fiquei deste lado a imaginar
Sem que de fotos fosse preciso
Contemplar com exactidão
A magia desse teu sorriso

Foste mais fundo na ficção
"do sonhar é preciso"
E compus esta canção
Serenata de improviso

És delicada no movimento
De quem sabe aquilo que quer
És magia do homem que sonha
És um sonho em jeito de mulher

Desde logo senti que o eras...
Apelidei-te de perfeição
Hoje deste sentido à palavra
E deste luz à minha razão

Dizem que a perfeição não existe
Hoje vi-a por aqui a passar...
E há pouco toquei na vida
com vontade de a agarrar

Levo-te comigo para os sonhos
Um sonho difícil de ser vivido
Levo-te no futuro e no presente
Com a ilusão... do "podia ter sido"

Para todas as "perfeições" do mundo
Só há uma de mulher
É aquela que nos dá a mão um dia
E à noite é o corpo quem nos quer

Se a perfeição existe ou não
Quem sou eu para o julgar
Mas a perfeição deve ter um tempo
Um espaço e uma forma de se manifestar

sábado, 20 de agosto de 2011

O som da palavra


Ninguém rouba o som à palavra
Apenas a escrita propaga esta penitência
Ocultando a fonética
e esticando a razão

Tocar alguém com a palavra
É como beijar de olhos fechados
Difundindo a compreensão
Na noite que o dia não vê

É num abraço
crer para lá de um verso
Que acolhe perverso
a ausência de uma rima
É folha que baila no ar
Ao ritmo de uma página cifrada
Que a todos toca
...num quase nada
Sob diferentes melodias

Compor a palavra
É dar sentimento
à lágrima que salga o rosto
É dar paladar
ao verso com odor a gosto
É dar nobreza à voz
que cala um tempo
E manifestá-la
Na espontaneidade do traço
A sagacidade de um só momento

domingo, 14 de agosto de 2011

Melancolia


Curiosos...
movem seus corpos vazios
Desejosos...
seguem despejados ocos e incompletos
Impacientes...
Preenchem a ilusão de um espaço
Com mais estrelas do que num céu pontificam

Verdadeiros
Julgam-se diferentes entre “iguais”
Melancólicos
Apelidam ao estado de alma
Por não admitir
A condição vazia em que se encontram

Melancolia não é um estado de alma
Melancolia é um estado vazio
É carência consciente
Na tristeza do ser

A alma apenas persiste
no domíneo das ideias
Num estado vazio
Para ser "muro das lamentações"
De tanta contrariedade

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

A Verdade


Catedráticos do conselho
Todos ousam uma verdade
Catedráticos do conselho
Todos procuram aos 7 ventos
Resposta para tanta contrariedade
Catedráticos do conselho
Todos "pirilampeiam" segredos de cauda fundida


A verdade...

A verdade
é mentira num amanhã serpentiante
A verdade
é segredo que dorme no fundo da orelha do elefante
A verdade
É uma mentira a longo prazo
na ignorância contínua de uma vida sabida

A verdade sem entoação
é um mas...
A verdade escrita
é um se...
A verdade é verdadeira
quando se oculta nas melodias de um búzio
e nos leva a viajar na espuma flor de sal
Em vagas perdidas de uma onda em alto mar


De olhos fechados desperto os sentidos
Da ignorância do ego
Do prazer do arrepio
Da informação desconexa

De olhos fechados vou mais fundo
tocando no acerto
Mantendo-me desatento...
Vou mais fundo na minha atenção

A verdade é uma dúvida "sabida"
...e sempre no sempre, mal respondida

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Noite


Um dia será dia
Quando da noite não tiver medo
Um dia será dia
Se nas manhãs da noite ousar em segredo

Um dia será dia
Sob um céu nublado
Se ao caminhar pela chuva
A vontade se aninhar a meu lado

Um dia será dia
Quando do sol já não precisar
Oferecendo a cara exposta
Sem receios de a queimar

Um dia será dia
Quando no ocaso descansar
E num final de jornada
Em teus braços me agasalhar

E num crepúsculo...

A noite será dia
Na manhã de um dia qualquer
Na forma curvilínea feminina
No teu corpo sexuado de mulher

A noite será dia... um dia
quando no escuro em ti tocar
clareando um amanhecer
Num brilhante despertar

A noite um dia será...
Até ao poente de um sol pôr

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Justiça dos homens


Verdades duras
Que o calor do sol amolece
Austeridades moles
Que a mentira pontifica

É aqui que tudo acontece
É aqui que tudo ramifica

Sistemas e organizações
Banqueiros da ganância
Empréstimos sem contemplações
Juros fáceis num crédito da tolerância

Governos eleitos por sedução
Tentação irresistível de poder
Enganam um povo iludido
Na fome... com a vontade de comer

Adestrados do umbigo ao caroço
Vergados às contrariedades da vida
O povo fixa raízes num olhar
Submisso e resignado por uma justiça medida

Que só é justa para os outros
Que só é justa para o que convém
Que só é justa porque não contempla
O sentimento de um pai de um filho...
De uma mãe

Governo Banca e Justiça
Ceptro de Neptuno
que em nosso mar impera
E nos tira...gatuno
As migalhas de um pão tão difícil de roer

terça-feira, 26 de julho de 2011

Espiritual


À esquina de uma curva delirante
Pinto a história numa tela
Esbranquiçada de suposições
Que a memória não leva
Que o tempo não guarda
Que a cor não define

Pé ante pé
deixo marcas na areia
num espaço de tempo
nunca maior do que uma maré
nunca maior do que uma recordação
nunca maior do que um momento meu

Pé ante pé
construo caminhos por entre a preplexidade
construo decisões por entre o medo
construo amizades por entre a paixão
construo amor por entre a melodia de um passo teu

pé ante pé
vou mais fundo no conhecimento
vou mais fundo no divagar
vou mais fundo no silêncio
...que me faz acreditar

A espiritualidade é ordem insatisfeita num vocabulário
por se escapar...
à religiosidade lógica de uma doutrina qualquer
É conexão sorridente
sempre que num fio condutor
se alcança a expontaniedade de um brilho interior
Na paz..num sorriso meu e teu

sexta-feira, 22 de julho de 2011

DÁ-ME LUME


Dá-me lume
queima-me devagar
Prende-me em ti
o que em mim é teu

Dá-me lume
queima-me devagar
Educa-me na fé
Do teu segredo no meu

Dá-me lume
queima-me devagar
Afunda-me as mãos
Nesse teu beijo

Dá-me lume
queima-me devagar
Vem rendilhar em nós
O capricho do teu desejo

Dá-me lume
queima-me devagar
Pinta-me na tela
Num quadro só teu

Dá-me lume
e faz-me sonhar...

Alimenta-me num sopro
a brasa que não serena

terça-feira, 19 de julho de 2011

ABSTRACTO


Pestanejo incessantemente
os olhos ao pormenor
descurando tudo o resto
Que as evidências me reflectem num gesto

Em benefício da dúvida
Estendo a toalha das decisões
Fertilizando as flores
Com matéria morta de opções

O abstracto é tudo o que nos escapa
A perspectiva é tudo o que nos distingue

Acomodo-me à sombra de uma nuvem
E sem pestanejar
agarro a atenção de uma mosca que por ali passa
Amplio o foco do olhar
E sinto na brisa de uma folha caída em espiral
as histórias ocultas pelo rodopiar do tempo

As palavras e os sentimentos
foram escritas um dia à flor de um oceano
E sob chuvas e ventos deixaram-se afastar
Hoje as palavras choram sentimentos
E no vento...
O oceano assobia encantamentos
Clamando na lágrima à saudade para se juntar

sábado, 16 de julho de 2011

CONTRADIÇÕES


Digo e contradigo-me
invento-me em contradições
Satisfaço o imediato
em momentâneas convicções

Descrevo e assinalo
Releio e volto a escrever
Sabendo que no amanhã
Tudo irei refazer

Erro educo-me
Corrijo e volto a errar
O erro, erra em mim
Á espera de se emendar

Penso evoluo
evoluindo eu vivo a pensar
Será que vivo para evoluir
Será que curioso vivo a julgar

Só sei que erro
E disso tenho certeza
Que erro constantemente
O erro é a minha natureza

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Tempo


Corro á frente do tempo
sempre que as horas me levam
E trago o tempo atrás de mim
sempre que no teu espaço
me presenteias com a tua atenção...

Não tenho todo o tempo do mundo
Mas tenho tempo
Tenho a vida feita num segundo
Tenho a atenção de um momento

Trago nos bolsos um tempo
Faço contas para o multiplicar
Uso-o na atenção de um momento
Uso-o para mais tarde recordar

Pedi a tua atenção num espaço de tempo
Partilhas-te o teu bem com o meu
O instante não parou... vivemos
E nos bolsos o tempo para mim cresceu

Pé ante pé
mudo o instante de um tempo
Pé ante pé
mudo a atenção de um momento
Pé ante pé
rejúbilo na compreenção de um espaço que me dás

Solitários são aqueles
que são pobres de um tempo
por não aproveitarem a vida
No espaço de um momento

domingo, 26 de junho de 2011

Errante


A escrita e o amor
dependem da paixão para evoluir
Como tal...
não existe evolução sem inspiração
Tal qual...
não existe amor sem ti

Sempre que lambes as feridas
A distância aproxima-nos

Sempre que te esgueiras
Contrariando as sombras
Surpreendes-me em pensamentos

Sempre que ecoas por brisas e dás voz á tua inocência
Contrarias o desacerto...
Dos dias em que ouso despertar

Aprisionas em tua boca
Recordações agri doces
Que engoles devagar

Respiras o nectar da minha existência
Num cigarro pronto a tocar o filtro

Num vocábulo oprimido
Tocas-me
Quente... com vagar
Num silênco apertado
Ousando na palavra
Roçar o sentimento

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Pranto


A culpa é quente
Ela é dormente
Ela aquece na mente
Daquele que julga...
E sente

Brincando ao desacerto
E iludidos no erro
Restituimos dúvidas á nossa razão
E entregamos o acerto á ilusão lógica dos muros do tempo

Fingimos juventude na entrupia dos dias
Com um cordel preso na ponta do dedo
deixando o sentimento flutuar á deriva
num céu onde as nuvens, já não moldam um sonho

Acatando a “alvidez” dos cabelos brancos
Perpetuamos em comum acordo
Na teimosia de um despertar
Recordando passados que já não voltam mais

A desculpa é mole e fria
Quando arrelia
e penitência
O penar do arrependimento

Na palavra a evolução é a minha constante
Há tanto de ti escrito em mim...
Que um céu é pouco
para descrever este meu pranto

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Espaços de tempo


Pendurei na parede do quarto
um quadro com as palavras que te escrevi
Para soletrar no escuro
a penitência dos meus dias de acerto

Do texto que compuseste
fiz dele a minha tabuada
Para que em nossa aritmética
o resultado fosse sempre divisível
E que a liberdade no espaço
se traduzisse em aperto doce, em nosso leito

Sem ti nada disto seria possível
Eu não seria o hoje
nem tu nem nós seriamos o amanhã
Mas seriamos seguramente alguém
Gente diferente em nossos sonhos
Pessoas destintas em nossas cores
Individualidades variadas...
no gosto que um gesto lhe confere

Este texto também não existiria
nem haveriam palavras lúcidas para o explicar
Por isso traduzo momentos
Para que os vazios confiram conexões
coerentes em suas evidências

Por vezes sem lógica mas com muita razão
Há espaços de tempo que ficam eternizados
muito antes da palavra... ser dia

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Ser único


Matas-me com a palavra
Sempre que a vírgula
Faz rimar a exclamação

Sinto-me único e absoluto
sem peias nem restrições
Sempre que misturas nos meus dias
O aroma e o gosto
... de um gesto
... de um traço
... de um olhar que é teu

Fazes-me sentir bíblico e sublime
sempre que descalço
caminho sob um mar...
Confiante que no mundo dos porquês
a imersão dos meus pés nus
flutuam na estabilidade de um passo

Imperioso e soberbo
indiferente e omnipresente
Pairo sob mim, em ti
Numa dualidade perfeita
que materializa as formas de um todo
No corpo e no espírito...
De uma alma que amanhece

Cuidando de nós
tudo fica mais próximo de se tocar
E nem o tempo é imenso
Nem as distâncias são desmedidas
Quando no imediato
se perpetuam de boas intenções

segunda-feira, 16 de maio de 2011

BOLA NO PÉ


Pingos escorrem pelas paredes
Num balneário húmido de decisões
Perscrutindo a tensão que arde por dentro
Num grupo de homens
trajados pelas mesmas cores

A fé e a crença de ganhar
O sucesso em querer vencer
O nome a cada constituição
O sonho com a camisola das quinas
É a vida...
É a ilusão
É o jogador de futebol

Anos ininterruptos de privação
Meses suados focados no objectivo
Dias de aplicação sublimando a eficácia
Horas de sacrifício enganando a dor de uma lesão
Minutos “borbuleantes” de entusiasmo a cada um novo jogo
Tudo isto é pouco...
Quando por dentro o sonho chora mais alto

Livre na forma de amar
Espontâneo na sede de um gesto

É a vida
É o futebol
Sentido e sabido
por aqueles que pisam firme
o tapete mágico dos sonhos
Onde tudo acontece
E a alma se engrandece
A cada inicio de uma nova partida

sexta-feira, 13 de maio de 2011

PERFEIÇÃO


Ainda que...
Amarrado em tua pele
Sob aromas e cheiros
Me trouxesses preso
ao sabor da tua boca
Eu nada seria sem a tua sede

Ainda que...
Pintasse a paixão nos teus passos
E que o vento assobiasse
o meu nome ao teu ouvido
Eu nada serei sem o tua vontade

Ainda que...
Moldasse o algodão das nuvens
E que o céu te assinalasse
por atalhos e vielas
o caminho da minha casa
Eu nada seria sem o teu desejo

De volta em volta
Há condutas que se quebram
De tempos a tempos
Há momentos que não são dias
De lés a lés
Há a inspiração que um beijo não sucumbe
Pé ante pé
Há sempre alguém
que abala por dentro as nossas estruturas

terça-feira, 10 de maio de 2011

RAZÃO


A lógica comeu a razão num dia assim...
Conquistando num gesto, o domínio de um passo
A confiança...o sentimento...o amor...
Tudo o que sentimos sem explicação é a nossa razão

A lógica subtraiu coragem á razão
E a coragem mirrou...
Humilhando-se a cada novo dia
na covardia dos dias sempre iguais
Educou sem razão...
Assentando e edificando a base lógica
Desvalorizou o sentir da atracão
no comodismo do imediato
Construiu cidades e países
sob doutrinas lógicas
que se valorizam em detrimento da razão

Não é lógico distanciarmos-nos da família
Mas sem razão essa lógica toma todo o seu sentido assertivo
Não é lógico haver desumanidade
Sem razão tudo é possível
Não é lógico governos e políticos exercerem mandatos
desgovernando a fome de um povo
Sem razão tudo é lógico

Nações que se erguem sob aproveitamento de crises
alheando-se da razão sob premissas lógicas
Mal gastam o homem

A lógica cresceu tanto
que hoje consegue ter raiva até de nós próprios
Consegue ter pena...

A raiva brota da lógica por não haver razão de existir

Crer na razão parece tarefa árdua
Mas é tão e somente crer... acreditar
Viver rodeado de razão
é tão perfeito que Éden e o seu jardim
Perderiam todas as suas maçãs
pela razão de não haver lógica que a substancie

Todos temos uma história para construir
Todos temos uma razão a defender
Todos somos poucos quando de lógica o mundo urge

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Rotinas


Vagueio silencioso pelas ruas desta cidade…
Por entre olhares surdos que não vêm
Na dormência de passos mudos que não sentem
Por entre a aura cinza das vestes da minha gente

Sei da história de todos eles
dos sulcos que cavam em suas direcções
Do cão que por tudo ladra
Das ilusões e amores que padecem
Da rotina diária a cada bica de café

Impotente como uma lágrima suprimida
numa garganta musculada pela agônia
...acompanho o actuar da marcha do tempo
que a tudo escoa a informação de tempos idos

Quando o peso do barril de petróleo e da moeda é mais relevante que a "politica monetária interior"... o sentimento é mero escudo de outr'ora

Impávido e expectante
evito a vaga de hipocrisia social
purificando na palavra
a luz que elumina a verticalidade dos meus actos

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Evidências


Por detrás da desgraça
Vivem os negócios mais rentáveis do planeta
Em cada foco de miséria
Há um nicho de riqueza que prospera
A cada corpo caído e mutilado pela fome
Há 21 gramas que se evaporam
E se materializam
Na cartola mágica de um magnata

Algures no telhado de um arranha-céus
O diabo pisca um olho
sempre que o “business” prolifera
E palmei-a o iludido
com um sorriso nos dentes
Enquanto abruptamente há alguém que se atira de uma falésia

Toda a desgraça é notícia
Mas ser desgraçado... Não!
Foi-se...
O trajecto para a morte não importa
O que interessa são os "quilos" de sangue presos nas rochas

A informação é veneno ilusório
O estado é soberano e as migalhas são democráticas
A droga de um povo
é a sua subserviência

Quando os poderosos não governam a indústria da cocaína
Toda a droga é penalizada
Prescrita e em conformidade com a lei
A mesma droga adquire um nome mais pomposo e elocutório
numa legalização de "estupefacientes"
Sendo assim tolerada e admnistrada
em maços de tabaco com letras maiúsculas
MATA
Mas como diz o povão ignorante
“ o que não mata, engorda”

Nas ruas, no metro, nos shopings...
Proliferam os bancos alimentares
E a dúvida persiste...
Será a desgraça que pisca o olho
Ou
Será o diabo que é mau e empurra as pessoas da falésia?

As evidências já não se escondem da vergonha
Hoje a vergonha é que se esconde das evidências

terça-feira, 19 de abril de 2011

Hesitar


Apareces e desapareces sem deixar rasto
Rodopias como uma folha
caída num vento de Outono
Que já não baila
na incerteza de uma brisa
Que já não dança a coreografia em espiral
na obra de um grande mestre


Deixas mensagens em palavras ocas
Sem miolo...
Futeis na cavidade do sentir
Vazias na ânsia de um desejo

Vais e vens como a espuma de uma onda da praia
Que se omite sempre que á beira mar
beija a areia indefesa
E vais construindo esse teu mundo
num rodopio afunilado
á sombra do teu umbigo

Hoje estás cá e queres iludir
Amanha estás lá e queres ocultar
Vamos fazer já?
E vencer o tempo
Ou será melhor depois...
Deixarmos arrefecer a imprudência?

Laços que se apertam no desejo
Relações que se materializam num beijo
Corpos que se encaixam e se amontoam
Num morder de lábios incessante

sábado, 9 de abril de 2011

Reconhece-te


Descrito num texto
Jaze a mais bela história de amor
Que nos rouba o passo de um chão
que é tão fofo de se pisar

A imaginação enche-se de prespectivas
E a vontade de desejos
O vazio transborda de afectos
E ao longe as rosas acenam
Engodos coloridos em seus anzóis

Alucinadas pelo toque
Salivam as glândulas
Num apetite extremo e sequioso
Ávidas de se banharem
Nos cheiros e nos sabores
Que se condensam num pálato
Refinado de suposições

O saber não se empresta
Nem o amor é claro e evidente
Como vem pormenorizado nas quadras de um livro
Amor é sabedoria
Saber...
é amar!

“Dar e receber... devia ser
A nossa forma de viver”

segunda-feira, 28 de março de 2011

Robin Hood


Hoje o governo caíu
Amanhã há eleições
Vamos votar?
Vamos construir o monstro?

Deputados do artifício
Vestem a máscara sorridente em dias de campanha
De barriga cheia, bolsos vazios e arrogância presa no dente

De promessa em promessa...
Cartomantes da ilusão fundamentam perspectivas aparentemente risonhas
Atirando em suas cartas perniciosas probabilidades ...de um jackpot órfão de taluda

Lá fora, na rua desta cidade
As varandas da minha gente adornam-se de placas da moda
VENDE-SE
Mas já ninguém sabe ao certo o que se vende
Uma lágrima mal nutrida, um apartamento escuro... uma família sem alma

Cá em casa sou só eu e tu
A querer aprender esta lógica do "desengano"
Onde a soma que regula a esperança vem cravada nas leis e nos artigos
De uma constituição que só causa dolo

Intrépido pego no altere e alimento a força...para que ela nunca me abandone
Abro ao acaso a bibliografia do "Mandela"...para que a audácia esteja sempre presente em mim
Irreverente vou construindo peça a peça o "Robin Hood" que emerge do desequilibro da raiva contida, deixando para trás um quotidiano cobarde demasiadamente acanhado


Dificeis de suprimir vou compondo pinturas rupestres, escrevendo sob a rocha dura
A prosa covarde que a todos apoquenta

sábado, 5 de março de 2011

as meninas da minha praia


Olhares que se cruzam
Sorrisos que se tocam
Incertezas que se entrelaçam num desejo...
A minha praia é assim !

É sal que tempera a pele morena
em sombra branca de biquini
É cheiro a cremes de fruta exótica
que despertam apetites
É corpos molhados que rejuvenescem
num reflexo atento de uns oculos de sol

Na minha praia
As cigarras cantam ao longe
Sonorizando o verde da serra
As raquetes dançam á beira mar
em movimentos sensuais
E em coreografias voluptuosas
toalhas sacodem repetidas vezes
um piscar de olho a tentação

Tatuadas de areia e sal
jazem ao sol as meninas da minha praia
Apurando e refinando a maresia
Espalhando cores e exotismo á inspiração
Fazendo das nuvens do meu céu azul
Sonhos curvilíneos e ilusões serpentiantes...
Adicionando sorrisos e a certeza
de que amanhã voltarei a cá estar !

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

gritos mudos


A falta de humanidade difunde-se no asfalto
Intoxicando e desprezando a natureza humana
O grito inocente já não contagia
Compor respeito e inspiração que dilate a menina do olho
É como encher os pulmões e gritar de baixo de água

Há pessoas que continuam a gritar...
Que choram por justiça
Que solução por piedade
Que calam pela fobia do medo
Que destilam sangue sempre que mais uma pedra lhes acerta
Que sofrem torturas por manter a tradição
Que sucumbem na fé... do apedrejamento

Há pessoas que calam
Que ignoram a desumanidade
Que compactuam com a barbárie
Que comungam de mãos nos bolsos a indiferença
Há pessoas que aceitam a crueldade de garfo e faca na mão

O eco propaga-se e causa vibração
Nas mais belas colinas do topo do mundo
Redigir um texto contagiante
Capaz de oscilar com as estruturas da estagnação
E remover a toalha do desacerto
É profilaxia que busco na palavra

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Fragmentos e prespectivas


O sentimento de vazio ganha espaço
As formas frustradas de não se entender o jogo
Creditam Ilusões soluveis de posse
Sem resultados no preenchimento da “peça da verdade”
Que todos imaginam saber

O que é a felicidade
Será a apoteose no cume da escada monumental do prazer
Ou será repentina
Inesperada
Que chega no fio da navalha sem avisar
Brusca e fria como o perigo

Na origem do léxico reúno fragmentos de prespectivas
Condenso em meditação o lapidar do diamante
Desmultiplico o desacerto e bebo da fonte
Polindo a palavra na forma e na fonética
Que vai dando nexo a natureza das coisas

Quanto mais educado eu sou...
Quanto mais dedicado eu crio...
Quanto mais zeloso eu dou...
Mais próximo de mim eu estou

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Tudo aquilo que não fui


Carrego o poder da existencia
na corda lassa de um trapezista
Conduzo os passos devagar
A cada despertar...
Na inércia do uso

Trago no bolso o segredo
Que os livros simulam em revelar
E guardo na prática os ensinamentos
Na apatia de um acordar

A lógica nasce na fragilidade da ignorância...
O espaço que nos escapa habita por detrás de um detalhe
De um, quase que...

Exprimo somente o que sinto e o que penso
De uma maneira espontânea e verdadeira
Sem que para isso grite aos 7 ventos
a sinceridade que abarco

Com as rédeas na mão vou soltando o açaime
Com prudência, para que a cobardia não me assole
Vou clamando a minha opinião sem pedir desculpas
Com a convicção e a crença de voar
Na metamorfose segura e serena
De flutuar ao vento nas asas coloridas de uma borboleta

Poderia ter sido tudo aquilo que não sou
Hoje sou tudo aquilo que não fui
...apenas alguém

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

prostituição


Geradora de ilusões
a mais velha profissão do mundo
ganha dignidade na ostentação de um luxo podre
Será a ultima a morrer com fome
Degradando tudo e todos aos que se submeterem
Aos seus jogos de luxúria

Cravado na pele o cheiro empregna a alma escrava
Desanimada como o putrefacção de uma carne fedorenta
Animais de colarinho branco vão ditando as regras
Na ejaculação de um fluido tóxico
Que envenena o espirito na malha da conveniência
Prostituindo uma miséria servil e obdiente

O interesse arquitectado ganha formas
Num arroto fétido...
Num sorriso ignóbil que arrepia até a essência
A avidez esculpe estalactites pontiagudas
Em argumentos miseráveis sem olhar a meios
De forma a tirar um ressultado forçoso

De corpo vandalizado e olheiras que a devasidão come ao sono cru
Jazes tu prostituição que canibalizas até a tua propria sombra
Vitimizando a ganância de tocar e ser tocada
...com toda a devoção