sexta-feira, 27 de setembro de 2013

LÓGICA DO AMANHÃ

Tão lógicos que nos somos que nos esquecemos
que acordamos movemos e respiramos
tão parcos de nos sermos...
Toda a construção dos nossos dias
depende da informação que nos incita um caminho

Toda a escolha é uma soma de lógicas
e todo o passo um resultado de decisões
Tudo quanto vejo sem haver lógica
é um resultado que não se processa
Todo o pormenor ao longe
é um ponto despercebido
que não se aninha no foco em sua forma...
Pois a lógica tem mais apresso
pela dimensão dos factos
do que as distantes incertezas desprovidas de tamanho

A lógica depende então do tamanho dos factos
para nos mecanizar
E quando materializada deliberadamente num movimento quotidiano
ela é esquecida
Por nos movermos dessa mesma lógica do depreendido
numa verdade inquestionável
De um estimulo que muito embora tenha história
nos é virgem e esquecido de um passado de identidade
que nos foi um dia primário
Que evoluiu por dentro e se desintegrou...
A realidade é do tamanho da soma dos pormenores compartimentados
que jazem desconexos na memória
Buscando amanhãs lógicos que nos agarram à vida

terça-feira, 24 de setembro de 2013

NA SOMBRA DA ESCRITA

Aquele que nas palavras não encontra o caminho...
No destino não se acha

Aquele que nas palavras souber compor melhor o pensamento...
Será um desatento da vida

Aquele que nas palavras encontrar os sentimentos...
É na sua verdade fértil de solidão

Aquele que nas palavras buscar o seu pão...
É com certeza um ladrão por profanar oralidades pouco precisas

PROSPECTO

Quanto mais compulsivo eu sou nas palavras
Quanto mais limpo de pensamentos eu me declaro
Quanto mais busco na composição outras formas de me dar

Mais felicidade eu sinto
Mesmo que mais vazio e amplo eu esteja
Mais capaz e preciso eu sou
Quando me dou
por ingredientes
A receita da minha ausência

A felicidade deve ser mais ou menos assim...
Uma forma de extrair uma lógica que satisfaça mais ao espaço
do que uma maravilhosa essência prisioneira nas entranhas de um corpo comprimido
Que de alguma forma só é fármaco quando partilha com os demais interioridades

A escrita mesmo que aliada da solidão
ela não é inteiramente pensamento
por ser descrita
no desejo das caricias
de uma qualquer atenção

Um dia pego na vida e leio o seu prospecto


CÓDIGO DE BARRAS





A felicidade e o amor

são produtos que nos deprimem... 

Por não sabermos avistar no código de barras

 os objectos que trazemos para casa





segunda-feira, 23 de setembro de 2013

UTERINO

Evidencia-mos tanto os factos
E adornamos-os com tantas gravatas
de tantas cores
Que um dia
deixamos de acreditar
nas flores
E passamos a comer sopa de urtigas

Acreditar não é debutar as evidências
Nem é dar à boca espinhos
Mas sim...
Dar-se a provar do jardim
Dos campos que nascem sem fim
E ser como um fruto
que desabrocha do útero
Indolor a todas as contingências



domingo, 22 de setembro de 2013

QUANTAS VEZES SÃO QUANTAS



Quantas vezes te atrasas mesmo que intolerante sejas tu com a pontualidade ?
Quantas vezes pelo caminho colhes almas adormecidas ?
Quantas vezes esticas incessantemente os braços sem chegar ?
Quantas vezes te precisas sem tocar no que realmente precisas ?
Quantas vezes são quantas na inercia de sonhar ?
Quantas vezes te encolhes ou hesitas por não te fazeres crer ?
Quantas vezes necessitas para te assomares da pele e te fazeres à estrada ?
Quantas vezes são quantas para te valer de ti sem te valeres de nada ?
Quantas voltas são precisas para adornar um tanto querido ?
Quantas vezes te enganas no silencio daquele apetecido ?
Quantas curvas precisas para definir a decisão ?
Quantas vezes são quantas para tomares os gestos e as rédeas da acção ?
Quantas vezes são precisas para, o precisares ?
Quantas vezes são precisas para te adiantares à procrastinaçao ?
Quantas noites são precisas para no sono te acertares?
Quantas...
Quantas vezes te idealizas sem o esgar de uma única expressão ?


O tempo urge
A espera desespera
E o amanhã será mais um dia de oportunidades...
Perdidas

sábado, 21 de setembro de 2013

BOCÃO



A boca dormitório de queixumes é o próprio inimigo

quando não sabe calada engolir o perigo

De proferir palavras menos ajuizadas de ternura




sexta-feira, 20 de setembro de 2013

NÓ NA GARGANTA

O dia em que o sol se entardeceu na garganta
Um soluço nasceu
O corpo gretou
Regrediu...
Envelheceu
Num mudo pensamento

Fermentaram-se no estômago engolidos
despojos de matéria deglutidos
em ácidos incapazes de os converter

E calei...
Mudo e calado
caminhei
Vivi
Saqueei
Vidas de outras vidas tantas que eu já nem sei
Mas vivi
ainda que longe de ti eu me sentisse tão perto

A loucura é mesmo assim
Só perdura dentro de ti
para desafiar o compasso do rigor
Mas como nunca fui doutor
Deixem-me estar...
Pois nestas questões do amor não há meias voltas a dar

A não ser que se enfrente a criatura de frente
e se rasgue a barriga bem rente ao umbigo
Para lhe mostrar as entranhas
E não haverem duvidas tamanhas
tenebrosas castanhas
Das noites que embora ausente adormecia-mos juntos
Enrugados no meu travesseiro

NUM OUTRO LUGAR






Aqui ou noutro lugar ade haver reflexos
que as sombras outro`ra delinearam...

Lá para trás do que eu não avisto
certamente o imprevisto acena-me de algum lugar
Que daqui eu insisto só em divagar
por me encontrar tão de frente para a vida

HUMILHAÇÃO

A humilhação é um acto que se procura
É algo que se busca
que se afigura
No auto flagelo da loucura
Um desejo que na procura só encontra desdém

Quem procura a sua princesa
nunca encontrá sobre a mesa ninguém
Quem procura a fama
só se achará nas cinzas
Quem procura o amor
só se colherá por dissabores
e umas outras tantas contrariedades...

Quem procura está de facto perdido
Rendido em sua ilusão labirintica
Só quem assume o seu desnorte
Aceitando o caminho da sua sorte
É que não se desculpa com o azar
incessante de se procurar
daquilo que não se tem...
Só assim serás alguém
na alma de um corpo

A humilhação é um acto que se procura
que se busca
que se afigura
no auto flagelo da loucura
Um desejo de se colher desdém

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

SUBSTRATO




Na periferia da vida 
a palavra apenas soa
Tudo o que é periférico
é alterado da sua essência
O pensamento 
faz-se sentir com base nesses ecos
E a sua repercussão na carne
afluem como meteorito caído na crosta terrestre
Todo o pensamento que daí aflora
são fluidos estomacais
que não auferem a quantidade imensa do substrato corpóreo do pensamento


Um pensamento não dá alimento
mas dá-me muito que pensar...
Eleva-me para o monte das perspectivas
Onde nada me acrescenta na sua soma
e tudo me engrandece na medida em que se adorna
o sentimento ao corpo imenso
Na geometria analítica da minha forma

O todo não tem a racionalidade com que me iludo
se não a aritmética das coisas vãs

terça-feira, 17 de setembro de 2013

CORDÃO UMBILICAL

A sede que a coragem tem
é apenas um sonho selvagem sem pressa de se selar o dorso
Nas manhãs de hálitos apodrecidos

A realidade essa...
Não é real
O ar que respiramos
é induzido
O alimento que ingerimos
é obrado
Sugerido
Pela corja manipuladora de gestos e sentidos
Que nos obrigarão um dia
pelo o umbigo
a separar-nos da gente
Banido-te...
Num ser rendido de história

Tenho pena do tempo que se escapa
Choro as horas no monte das distracções
E iludo-me com uma justiça crua
quando me perco pela rua...
De um caminho para o monte

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

VINGANÇA



De nada nos serve a intransigência

A medida certa é muitas vezes 

uma perspectiva passada...

Nada correcta

e imaginada

para se condicionar com a regra

                                     Uma vontade de agora                                      








DESEJOS




Vamos fazer já 

Ou

Deixamo-nos amadurecer

como um vinho...



Que deitado descansa em paz

Aguardando o seu momento,

O hino

A partilha

Do seu néctar lilás

Só por satisfazer, uns lábios sonhados

e tão apetecidos






domingo, 15 de setembro de 2013

SIMPLICIDADES

Umas mãos que se dão
Um sorriso que se procura
O sabor carregado de entrega
Um vulgar tão apetecido
Em qualquer lugar
Sem qualquer definição
Onde caibam as nossas formas

A fragilidade quando se preenche...
Já não é órfã de um espaço
Já tem nas suas formas um corpo rendido
Já tem na sua mente um desejo vencido
E todos os horizontes aglutinados dispostos numa só direcção

Quero-me cada vez mais...
Como alguém que se quer apenas e só por servir




sábado, 14 de setembro de 2013

WAKE UP




Tudo o que nos desperta são imediatos fugazes


Basta haver uma pincelada de motivação para que se construam obras maravilhosas




quinta-feira, 12 de setembro de 2013

METAMORFOSE

À hora marcada já a ilusão estava sentada
Galanteadora aprumada
À espera de um beijo

Adiantou-se à hora prevista
e sem avisar de forma nada calculista
antecipou-se ao tic-tac dos ponteiros

Fintou a ponderação e partiu o gelo
Assumindo sem receio e com todo o devaneio
a imprevisibilidade que adoça num zás

E beijou molhado
Brindou os olhos ao escuro
A noite efervesceu na barriga
Entregando-se o desejo até às entranhas
Crédulo na metamorfose do seu corpo nu

Um dia...
Ganhará asas
Haverá fé que voa
Flores que adocicam
e dias que não entardecem o sonho colorido

De andar entorpecido
há um velho que se arrasta
Gastando o seu corpo envelhecido
ao ver tudo isto diluído
pelo que ali se passa
Num borboletear cintilante de uma borboleta
E pensa...

Terei eu adiado a minha dança
quando a esperança faz gazeta com a realidade

terça-feira, 10 de setembro de 2013

SALPICOS

Guardei-te num olhar
Sem pressa de piscar
os olhos
Às lágrimas salgadas

E apurei-te nas retinas
Comprimindo-te de formas pequeninas
Para te refinar até à essência

Hoje
sem saber onde te guardei
Perdi-te...
Num espaço interior
Onde já não sou o obreiro
nem realizador
Das películas que os sonhos me choram

Tudo o que é irreflectido e ordinário é expelido de incertezas
Ainda assim...
A espontaneidade é a mais pura verdade que salpica dos corpos abstractos





domingo, 8 de setembro de 2013

A BAÍA DOS PENSAMENTOS




Acordo adiantado à manhã

Lá fora a noite ainda não clareou
Deslizo-me capaz à frente do dia
antecipando o agora, que ainda não se passou

Vou mais longe do que um gesto
Ajustando momentos
Optimizo opiniões
Modelando caminhos
Rectifico opções
Definindo com clareza o mar crespo das contradições
que se espraiam distantes

Ao meu redor
surpresas e segredos convergem-se banais
Aguçando-me o sorriso
por me sentir mais à quem dos demais
Que se intrigam e depreciam duvidando

E vou compondo
Escrevendo
Sorrindo
Observando
Fluindo
Através de palavras que me carregam a voz
Mais além do que a foz
que se esvai...
Na baía procrastinada dos pensamentos


sexta-feira, 6 de setembro de 2013

JARDINS DA BABILÓNIA

O facto de a noite chegar
não quer dizer que o dia se vá embora
Da mesma forma que...
Sempre que vais
Há uma boa parte de ti
que em mim fica

A saudade é cola
que assola o pensamento
Restaurando os fragmentos
que o sentimento não ousa apagar

Se um dia eu te edificar nos muros do meu jardim
Foi porque houve um tempo de acerto
Em que tudo fez sentido
Onde até um não dizia que sim
E o prazer foi respeitado

Saudosa é uma vida
Quando por suspiros se dão cores à flores
que desabrocham nos jardins da Babilónia

terça-feira, 3 de setembro de 2013

EXTASIE GRAMATICAL



                 Quando na palavra tiver a arte de delinear o desnorte que me causas
Serei eu a mais pura verdade...

Num extasie gramatical em que todas as silabas se completam

No suspiro rasgado da alma