quarta-feira, 2 de julho de 2014

CANTO DO GRITO




Quantos decibéis terá a voz que ter, para ser o canto de um grito ?
Quantas palavras na frase terão de haver, para contrariar o som ?
Quanta dor é preciso para gritar ?
Quantas lágrimas seram precisas para assinalar o lamento ?
Quanto de contrariedade é preciso, para sacanear a voz ?
Quanto prazer é necessário para romper garganta ?
Quanta fome é preciso para se uivar à sede ?
Quanto grito há no silêncio a boiar descalço ?
Quanto de ferida a carne carece, para se ofender ?
Quantas cicatrizes precisa um olhar para protestar atenção ?
Quanto frio a pele reivindiva para assinalar o arrepio ?
Quanta imensidão há no eco côncavo de um vazio ?
Quantas subtilezas teram as tristezas que ter...
Para gerar erupção ?

Que se foda a educação !
Puta que pariu para a ponderação da etiqueta.
Que se fodam as falinhas mansas.
E viva o grito!
Viva todo e qualquer gesto digno de registo
Bendito seja ele entre nós e vós mulheres
Viva o grito !
Vivam todas as emoções que se libertam do peito
Aclamados sejam os actos a torto e a direito
Que nunca hajam receios no vértice da oração
De haver num grito cumprido
uma vontade solta
plena de razão

Sem comentários:

Enviar um comentário