terça-feira, 24 de junho de 2014

MELODIA DAS MARÉS






Depois de tanto tempo... Sim, porque o tempo para os apaixonados é uma ampulheta com caroços de cereja a roçarem-se a custo por entre o afunilado de um vácuo... eles cruzaram-se nus (seminus) pela praia .
Ele passou por ela contraído e sorridente, tentando manifestar uma musculatura que nunca tivera, dos membros aos abdominais .
Ela passou com tal graciosidade por ele que alongou o seu 1,68 até tocar nos 70 .
Ambos fingiram-se triunfais nas vidas que derramavam .
Mas o que os denunciava, fora os seus passos imprecisos marcados sobre areia da praia .
Aquele instante fora eterno ...
Um tsunami ao longe ondificou o mar, e a praia estarreceu... os arrepios que pontificaram a pele dos seus corpos, deram composição a histórias idílicas, de deuses que erram para apurar a perfeição .

O sol de Verão fazia o mercúrio da maresia espraiar-se pela maré fazia, dando mais palco à encenação das almas que se choram.
Ele e Ela...Sim, porque ele e ela cabem em tantos nomes... geometricamente posicionados, espreguiçavam as toalhas de modo a se fazerem sentir notados, no foco prazeroso do tremendamente desejado .
Ele prostrado na sua toalha ganhava estrabismo, ao querer alcança-la por detrás de uns rayban escuros.
Ela precipitadamente deitada, apoiava a sua cabeça no nada... no seu saco de praia, dando-lhe assim ângulo para a leitura de um livro, em que o actor principal veraniava a poucos metros de si .
Depois de vários caroços se aninharem naquele tempo... Houve um momento em que a hesitação da ponderação baixou a guarda, e os seus olhos ao cruzarem-se ganharam vias.
Autoestradas magistrais que irropem caminhos secundários, dando aos mortais promessas de se chegarem (mais à frente) mais rápido !

A onda de tsunami que lá atrás se vinha formando, colidiu com a praia abalroando os corpos sem estrutura num mesmo caldo, desfazendo uma gravidade para longe dos gestos, tornando os movimentos mais cumplices de uma qualquer sedução

Irmanados pelo encadeamento da fixação, comunicaram-se por sorrisos e olhares tão invulgares que não pediram obediência à razão ... E aproximaram-se .
E de novo como crianças tremeram e coraram .
Ela deu-lhe a mão e apresentou-se, como havia feito ele há uns anos atrás no liceu .
Num solavanco ele puxou a mão dela, de modo a ficar numa posição que lhe permitisse trautear o seu nome ao ouvido, e se embriagar de novo de sentido, no aroma dos cachos dos seus cabelos .
Agora pequenas evidências brotavam na pele, marcas que a distancia talhou .
Agonias e torturas inflingidas pela pirataria dos pensamentos moldavam agora sulcos nos seus olhares .
Ela trazia tatuada na carne, nomes e datas, de momentos que não eram os seus .
Ele denunciava nas formas como se gesticulava despigmentação no dedo anelar, causada por uma aliança que de facto nunca fora verdadeira, na união de um casamento .
Todas as ideias eram parcas para presentearem aquele instante por palavras .
Todos os olhares, ao redor, eram subliminares de uma ignorância extrema .
Eles e Elas naquela praia eram mais que muitos...

O sol lá em cima, a mais de 40º queimava o mar... e toda a ordem da espécie .
A praia ao longe era feita de histórias Deles e Delas .
A bandeira amarela anunciava o Tsunami em ondas que esticadas, acareciavam as conchas e os buzios com a sua espuma .
E as marcas na areia eram diariamente apagadas pela maré, que todos os dias bebiam melodias nas histórias insignificantes da gente

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