sábado, 4 de abril de 2020

RECORDAÇÕES



Como tudo passa tão rápido, como tudo se transforma, sem nos apercebermos muito bem de que forma a forma nos vai (de)formando...
Lembro-me tão bem, de ti.
Era a camisa amarela do meu guarda roupa, ( guarda fatos, roupeiro, ou guarda vestidos...eu sei lá!) que eu mais gostava. Combinava tão bem com tudo, tão harmoniosamente bem que me assentava, tão bem que me sentia ao vestir a minha camisa amarela de manga curta. Combinava mesmo bem com tudo em mim. Desde os cabelos às farripas amarelas, passando pelo olhar sempre a sonhar de tons esverdeados e o sorriso envergonhado mas traquinas, o mais traquinas lá do bairro...
Como eu gostava de a vestir. Como eu sonhava que viesse o verão só para a sentir, no meu corpo, esses tons amarelados que me realçavam a satisfação por todo o lado, e mais ainda se os dias tivessem sido de praia. Como era fácil sentir-me bem, na ingenuidade de criança, por debaixo de uma peça tão peculiar de roupa.
Lembro-me que foi a minha eleita para ser vestida naquele que antigamente era um dos dias mais importantes, o dia das fotografias, para constar no passe da carris, no bilhete de identidade e no cartão de identificação da escola.
Nos dias em que a vestia sentia-me tão único, tão eu, tão bem que me sentia e assentava a minha camisa sempre muito bem engomada, e que, tenho a certeza que me iluminava para onde quer que eu fosse.
Contudo usei-a apenas duas, ou no máximo três estações, pois o meu corpo por essa altura não parava de crescer e eu sem me aperceber muito bem, fui germinando, fui crescendo, fui-me formando à forma que ainda hoje me (de)forma e vai formando.
Como casuais mudas de roupa, nas quais as vamos vestindo, despindo e usando, nas quais vamos  trocando e as esquecendo, algures num tempo, algumas das quais nos proporcionaram tanto, tanto, mas tanto.

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