domingo, 29 de outubro de 2023

MANTRA


Que a profundidade dos meus pensamentos não sejam as desculpas nem se tornem no argumento de exaltar a apatia e dar voz à procrastinacao.

Que a ignorância tenha sempre ao logo dos meus dias alguns laivos de clareza e capacidade para discernir um sim de um não.

Que o amor, do início ao fim, seja sempre respeitado, para que atordoado não se transformem os anos de uma vida.

Que a responsabilidade para assumir os erros não me tornem cobarde, pois bem sei que na hora da verdade, há sempre uma criança que se esconde como medo de enfrentar o silêncio do escuro.

Que a voz traga no timbre a fé, para ecoar com clareza as cores dos sentimentos.

Que a coragem não se dissipe  com a chegada das rugas e dos cabelos brancos, nem se corrompa com as juras de união não cumpridas.

Que a generosidade possa estar presente em boa parte dos passos que eu dou.

Que cada manhã me acorde bem desperto do passado dos sonhos, para que os instantes não escorreguem do foco e se despercem no firmamento como uma miragem.

Que todas as relações que me envolvo possam ter a coragem para reagir uns centímetros mais além, que o raio do seu próprio umbigo.

Que meu abrigo seja cada vez mais um sorriso, um olhar, um vestígio de desejo e admiração.

IDÍLICO


Hoje fugi de mim. Não fui atrás das horas, do hábito de me perder no tempo, nesse complexo caminho que se ousa haver sentido. Em que um homem se atira de cabeça para as rotinas diárias e se entrega a essa frequência, só para daí extrair um mísero e parco sustento.

Quis antes sim, recordar-me da criança que ri, desenvergonhada, por não trazer na imaginação a sua imagem particularmente pesada, ao ter perdido um ou outro dente. Do petiz que tropeça invariavelmente, quando corre ao brincar na rua,  esfolando os joelhos sem se importar, com a cor das calças que iram roçar, no sangue, na cicatrização das suas feridas. Do miúdo que joga à bola a tarde inteira, bem para lá do apito final dos 90 minutos de um jogo de futebol. Que sonha com os dedos de anémona curiosos, em poder tocar no mundo dos adultos, só para te escrever...

Aproximar-me na escrita de tudo aquilo que sinto é um dom, que ouso sem o ter. Muito embora, estes sejam os momentos em que mais gosto de interpretar este meu viver.

Em toda a parte, em todos os momentos, aqui e aí,  há sempre novas possibilidades de haver um recomeço, que pode ou não andar moribundo, ou até, já ter expirado o seu período de validade.

Há decisões que a ignorância de tão abafada já nem alcança.
Há noites que, por serem escuras, só nos conseguem iluminar a vontade dos sonhos.
E há em qualquer caminho ou lugar, sempre alguém, que no meu caso em particular serás sempre tu.

DESCULPA


Há pouco, soube-me tão bem pedir-te desculpas, no instante em que me apercebi que a razão estava toda ela do teu lado, que instantaneamente e de imediato despertou em mim,  para espanto meu, uma tamanha satisfação, não só pelo facto de o admitir e humildemente te pedir desculpas, mas fundamentalmente por, reconhecer a tempo um erro.


A felicidade além de fugaz e instantânea pode também ser , uma simples e descomplicada forma de viver. Um jeito leve, solto, delicado e sereno muito próprio, na forma de conviver e nos relacionarmos com os erros.

Dar o braço a torcer não é nem nunca será uma fraqueza humana, ou melhor, não admitir um erro, é isso sim, uma forma estagnada e inerte de não acordar os dias.


Sabias que pedir desculpa liberta-te, podendo até ser fit, fazendo-te emagrecer?

* Este texto nasceu deste episódio...

"Hoje( ...um dia destes) após ter curvado à esquerda num cruzamento, sem que tivesse parado e desse prioridade ao veículo que circulava na perpendicular em sentido contrário ao meu... Deparo-me que o sr. do veículo fica indignado e furioso. E prontamente pedi-lhe desculpa, fazendo-lhe um gesto com as 2 mãos em oração.
Verificando que o condutor ficou rendido esboçando um sorriso e com um gesto da cabeça anuiu..."

domingo, 15 de outubro de 2023

NAS SOMBRAS DA APATIA





Tem gente que se atarefa ao longo do dia, só para não se escutar...
Só para não ouvir aquele grito que a agonia provoca ao se lembrar de um passado,
que não se apaga e que sufoca.
Por ter sido imensamente mal interpretado...


Como era bom viver o tempo em que a vontade de comandar o dia estava presente na filosofia das nossas mãos.


Tem gente que se atropela demais,
só para esquecer um grande amor,
que ficou deixado lá atrás.
Quando nas primaveras em flor voavam borboletas e pairava a magia pelo ar,
de fazer acordar os dias com vontade de pintar o destino,
nas suas mais diversas direções.


De indecisão em hesitações o amor definha sem estrutura nem espinha para equilibrar a emoção de dois corpos livres.


Tem gente que vive não vivendo,
ignorando literalmente o alimento que o corpo está a querer.
Só por teimosia na tentativa de se esquecer do apetite...
De uma fome que a carne implora.


A todo o momento é chegado a hora da decisão.
Acreditar ou não faz parte do processo,
de moldar a apatia com rugas na tez,
ou,
a expressão de um sorriso de ternura num rosto.