domingo, 17 de março de 2019

BURACO NEGRO


Alimentar uma relação em modo de sms é a pior forma de abastecer uma via que não fortalece.
Um corpo,
O desejo,
Um amor.
A alma de uma vida que se desertifica.

Olhou para o texto sem emoção do seu telemóvel, e apercebeu-se que todas as mensagens que recebia careciam cada vez mais de energia, de palavras dispostas a aglutinarem-se na frase.
Em jeito de catarse selou os pensamentos, arrumando-os, até entender que a única fonte que tinha para se abastecer era unicamente sua e tão só sua... no seu oasis fértil da imaginação.

Abriu as mãos à carne e acariciou-se...
Afinal de contas, podia ser auto suficiente, independe do que quer que fosse, ou apenas mais um dos muitos carentes que se amontoam por detrás desta vaga de tecnologia. Onde plataformas de perfis e fotos de redes sociais são canibais  deste mundo cão. E com uma tremenda divagação deixou -se levar e profanar pelos contornos de corpos femininos adestrados em posições sutricas.

Depois de descer dessa dimensão, olhou para a realidade das relações que mantinha até então e que se haviam estagnado, muito por causa do emaranhado da evolução tecnológica. E em jeito de conclusão escreveu-lhe ecriptadamente três pontinhos de reticências. Apressando-se de seguida em abrir parênteses  para que ela entende-se a essência do sms, nomeando a cada ponto uma palavra.
"... (.Até .Nunca .Mais)"
Enviando-lhe de seguida a mensagem. Sem pretensão de receber qualquer tipo de resposta a seguir.

Há na evolução da comunicação tanta desatenção e rapidez no modo de comunicarmos que, ao invés de nos aproximar com sensatez, nos distância numa arrogante altivez, nociva, que nos embrutece e desmotiva.

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