sexta-feira, 10 de julho de 2020

ESPLANADA DE SÁBADO




É desumanamente engraçado ficar numa esplanada de sábado ou num domingo, ou de um outro dia qualquer até, em que não chova nem faça vento... E dali daquele recanto abrigado da atenção, de tudo e de todos, menos da curiosidade mendiga dos pombos, ficar a contemplar as cores e as texturas da moda, que nos corpos aperaltados, ou não, dos demais se vão exibindo na passarela Epicuriana de um viver.
Tem dias que a urbe se conjuga numa harmonia e num pandam de tons a toda a prova que dá até para imaginar, que tal qual boletim meteorológico, houve um critério pensado e atempado para a escolha das peças a vestir. Tem outros dias que, e hoje é um desses dias, as pessoas acordam à pressa e "vestem-se de ananás", vestindo tudo o que lhes vem à mão, ou de qualquer forma, sem sentido nem encadeamento nenhum.

Atento, espectante e muito observador, a contemplar sem precrustar nem olhar de forma constrangedora e abusiva os transeuntes que se atrevem a pass(e)ar ao longo deste meu foco. Constato que, a mascara da cara e do corpo, as roupas dos pés à cabeça, adqueriram formas, corte, texturas, marcas e cores dificeis de explicar...
E como a ironia é a forma com que me debato daqui na escrita, mesmo sem ter o intuito de ridicularizar ninguém, tento ir ainda mais ao fundo no esmiuçar desta razão de estilos e formas de andar vestido sem sentido, ainda que parcialmente todos tenham os 5 sentidos intactos, creio eu, e que sintam "o mundo das sensações" também.
Já que falo em sentidos debrusso-me apenas num, no do gosto,.. No gosto que a saliva me induz na boca para ensaiar esta tese que em nada mais é  do que um fragmento incapaz de explicar, a mim e aos pombos, o que quer que seja.

Porque nos afastámos tanto do conforto que um corpo precisa na hora de escolher uma roupa para se vestir?
Será que esta analogia, este detalhe ou simplesmente desumana ironia não servirá também para explicar haver tanta incerteza e obscuridade na hora de se assumir escolher um amor para viver... Um amor que nos dê conforto na hora de o vestir?
Ou será que o conforto de um corpo nessas alturas é posto de lado, dando-se mais ênfase à derme, ao ego e a um triste fado, do que à epiderme da pele, que suporta as intempéries tempo e dos arrepios?

Em jeito de conclusão...
Se é confortável para a pele, um dia também o gosto  é bem capaz de se converter!

É desumanamente engraçado ficar numa esplanada de sábado ou num domingo, e porque não até de um outro dia qualquer, em que hajam sempre pombos curiosos mas também a timidez saltitante e gulosa dos pardais. Para que o escárnio daqui se faça sentir no eco e na audiência, por mais...
Na hora de comer as migalhas pelo chão, que em vão, são banalmente pisadas e ignoradas no vai e vem de um viver.


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